quarta-feira, março 02, 2011

Entrevista nº 03: Roberta Fraga

É a autora do livro “Uma história de Grande Porte” que o L.S. Alves fez uma resenha aqui. Ela também escreve no blogue Peculiarizar, junto com a sua irmã Carolina. Natural de Brasília, trabalha na área de Direito, curso no qual se formou. Mora próximo de Sobradinho/DF e é mãe de Clarice, uma menina de 2 anos de idade que já tem amor pela leitura.

O gosto pela escrita sempre esteve presente na vida de Roberta. Desde menina. Está com 32 anos de idade e diante de um sonho realizado: a publicação de seu primeiro livro. Conheçam a jovem autora por trás da obra “Uma história de Grande Porte”.

Máquina de Letras: Você sempre gostou de escrever. Como surgiu a oportunidade de escrever um livro?
Roberta Fraga:
Escrever sempre foi minha paixão, aliás, sou uma leitora um tanto voraz. Desde pequena eu escrevo, consigo me lembrar de claramente que, aos oito anos, ainda na segunda série, escrevi a minha primeira poesia. Ela se chamava "A leve brisa passa já". Depois, enviava poesias para os jornais. Eu me lembro de que por ocasião da morte de Carlos Drummond de Andrade, ao ouvir a notícia no Jornal Nacional, mandei uma cartinha para o Correio Braziliense e publicaram lá uma poesia dedicada ao escritor. Até me premiaram com um livro na Livraria Presença, em Brasília, ficava no CONIC e que, infelizmente, nem existe mais. Eu devia ter uns nove anos. Aos nove anos, respondendo a um desses questionários para trabalho de conclusão de curso (eu acho que era na área de Psicologia, não sei bem) e eu me lembro de nitidamente que uma das perguntas era qual a profissão que eu queria seguir e eu respondi prontamente escritora. Incomum, naquela época, uma criança de nove anos pensar assim. Então, meu pai mandou umas cartas para editoras, mas eu só ouvi recusas até então. Depois, guardei meus sonhos na gaveta, escrevia, concorria em concursos, mas tudo amadoristicamente. Não me dediquei, comecei a acreditar que não daria certo e que eu tinha que pensar no meu futuro de maneira pragmática. Foi então que eu embarquei no Direito. Sempre gostei de ler e de escrever, sempre, mas sentia e sinto, que, mesmo, apesar do Direito, ainda restava uma lacuna em mim quanto a isso. E continuei produzindo e produzindo solitariamente meus textos. Em 2006, um amigo meu, cineasta, Antonio Balbino, pediu um texto meu, despretensiosamente. Até então, eu não tinha ideia, mas ele pediu minha autorização e roteirizou um conto meu de realismo fantástico que eu chamo Z e ele adaptou para o roteiro "Fragmentos". Daí, participei de uma iniciativa da Universidade de Brasília, chamada Incubadora de Arte, que realizou uma rodada de negócios Livro e Literatura, onde se reuniram vários seguimentos do setor e lá encontrei a Editora Hinterlândia que estava interessada no perfil que eu estava oferecendo naquele momento: histórias infantis.

MDL: Por que escolheu como tema a depressão infantil? Conheceu de perto uma criança depressiva?
RF: Tive experiências de pessoas próximas que me fizeram investigar o assunto e depois fui notando que no trabalho tenho colegas que passam por isso, nos meus cursos, meus vizinhos e fui notando, também, matérias e entrevistas a respeito do tema. Então tentei criar uma alegoria que funcionasse como uma metáfora para as crianças. Algo que servisse para elas concretizarem o sentimento. Comecei pensando na expressão "elefante branco" que é algo aparentemente discreto, mas que causa transtorno conviver com ele e fui desenvolvendo. Trabalho algumas metáforas no livro como a parte em que a criança está na sua zona de conforto por ser vista com piedade a partir de seu sofrimento, e que as suas lágrimas se transformam em amendoins, sugerindo que o sofrimento gera mais e mais pesar, por exemplo. Eu gostaria de registrar que não dou nome aos personagens porque queria que a ideia do texto tivesse mais força que seus personagens e também que os pais da história são bem omissos, motivo pelo qual têm uma participação adjacente. Algumas pessoas consideram a história difícil para as crianças. Talvez seja, tentei construir a história o mais simples possível, talvez caiba uma leitura partilhada, mediada, uma ótima oportunidade de aproximação entre pais e filhos.

MDL: Quando e como foi o lançamento do seu livro?
RF: O lançamento aconteceu em 16 de outubro de 2010 na 29º Feira do Livro em Brasília. Foi um evento bem bacana, conversamos um pouco, dei alguns autógrafos e fizemos uma doação de cem unidades do livrinho para o projeto Arca das Letras (esse projeto visa a criar microbibliotecas em assentamos rurais e urbanos). Os meus livros, entre outros, por exemplo, foram para o Amazonas.

MDL: Quem foram os seus incentivadores para escrever “Uma história de Grande Porte”?
RF: Posso dizer a respeito de incentivadores do universo da leitura que meus pais me impulsionaram até certa medida, mas naquela época em que eu era criança esse mercado era muito difícil, sob muitos aspectos. Quanto ao tema, não existiu um incentivador propriamente, algumas pessoas me inspiraram e na reunião com a editora este texto foi escolhido como inaugural por guardar a sua cota de discussões. Sempre trabalhei com três histórias ao mesmo tempo. Algumas infantis, outras não. Quero registrar que a Daniele Dias de Lima foi sempre paciente e solícita em me incentivar e ler meus originais, fazendo correções (sem cobrar nada por isso) e sugerindo ajustes.

MDL: Depois do primeiro livro, é difícil não desejar escrever outro. Pretende escrever livros direcionados ao público infantil?
RF: Tenho muitos textos prontos para serem aproveitados ainda e de diferentes direcionamentos. Amo escrever. É espinhoso, às vezes não temos retorno, às vezes, quando temos não é o esperado. Um livro é como um filho: você o cria e tem vontade de mostrar a todos e que todos o compreendam como você, mas nem sempre as pessoas gostam ou, sequer se importam, mas se alguém guardou sua mensagem, já é o suficiente para ter valido a pena.

MDL: Sua filha se chama Clarice, uma homenagem à famosa escritora de sobrenome Lispector. Qual o significado da Clarice Lispector em você?
RF: Clarice Lispector é um marco na minha vida. Aliás, depois de ler Clarice eu decidi que gosto de literatura com tempo psicológico (como Clarice) e fantástico (como Gabriel García Marquez e Saramago). Leio de tudo, até "resenha do BBB", mas amo esses outros estilos. Uma vez, vendo a uma reportagem sobre a Clarice Lispector, eu a vi falar que "escrevia simples". Sim, as palavras são simples, mas seus significados falam uma coisa particular a cada pessoa que lê e eu acho isso genialidade. Longe de me comparar a qualquer um desses, acredito em falar a cada pessoa no seu interior. Sem falar, que eu considero um nome lindo.


MDL: O que a sua filha achou de ter uma mãe escritora?
RF: Ela ama livros. Mesmo com seus dois anos, ela inverte as posições e conta as histórias para mim, do jeito dela, com inúmeros finais ou não finais (muitas vezes o Pica-pau fala mais alto). Acho que ela não concebeu isso ainda de uma maneira mais consciente, mas tenho ensinado que ela ame os livros. Quem tem livros, tem o mundo inteiro para apreciar, tem todos os sonhos, tem todas as pessoas. Um livro é sempre boa companhia.

MDL: Como as pessoas podem adquirir o seu livro? Está sendo vendido em livrarias e na internet?
RF: O livro pode ser encontrado em algumas livrarias do Distrito Federal, Rio de Janeiro e pela internet pode ser encontrado na Livraria Cultura.

MDL: Comparando como é escrever em blogue, que diferença você sentiu ao escrever um livro?
RF: Escrever em blogue é mais coloquial, mais despretensioso, mais próximo do interlocutor. Em blogue, você conversa com amigos. Um livro, não quanto ao conteúdo, mas quanto à destinação gera uma certa expectativa. Suas ideias vão deixando de ser suas para navegarem em outros mares, terem outras percepções. Um livro é, sem dúvidas, uma doce aventura.

MDL: Quais são os seus sonhos?
RF:
Sonhos possíveis? Sonho em continuar escrevendo e produzindo livros em feltro (que é outro de meus trabalhos). Sonho em poder ler muito mais do que eu posso atualmente.
Sonhos (im)possíveis? "Gostaria, Deus, de ganhar na megasena acumulada p
ara eu poder continuar escrevendo e produzindo livros em feltro (que é outro de meus trabalhos). Sonho em poder ler todos os clássicos com que sempre me comprometo. E, com o prêmio, prometo apoiar os projetos dos meus amigos que batalham tanto pelo seu lugar ao sol e aqueles que abrem espaço para a minha fala na blogosfera. Amém."


MDL: Qual o melhor conselho que recebeu e deseja dizer para nós?
RF: Posso dar dois: Nunca deixem de sonhar, os sonhos são os que nos mantêm vivos. E o segundo, mas não menos importante, ame os livros. Uma pessoa que lê vê com os olhos do mundo, abre a mente, transcende de si e de sua realidade.


Fotos de Rafa Zart.

OBS.: Entrevista realizada por email.

Lu Vieira

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Um comentário:

  1. C., isso significa que já conhece bem a gente.

    O que você disse é a nossa torcida para que o livro da Roberta desperte a atenção de quem lê.

    Oba! Obrigada por nos considerar blogueiros queridos. Beijos!

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