sexta-feira, abril 30, 2010

Sopro de Deus

A vida é muito curta, é muito breve,
É uma passagem sempre antecipada.
Aquele que não ousa e não se atreve
Só vê o tempo lhe passar, mais nada.

A vida é feito pluma, solta e leve,
No sopro da incerteza carregada,
Desaparece como um vento breve,
Deixando uma lembrança sempre vaga.

Buscamos ser feliz, buscamos ter,
E a nossa busca é tão enlouquecida
Que até nos esquecemos de viver.

A vida é breve, é curta sim. Que pena!
Portanto, seja grande nessa vida,
Não deixe a sua vida ser pequena.



Conforme eu prometi ai acima está um dos sonetos do Hélio Cabral. Com o tempo postarei outros.


Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

terça-feira, abril 27, 2010

Rumo incerto

Escolhas. Decisões. Algumas deram certo. Outras não. Ultimamente não se sente mais seguro para tomar as decisões. A insegurança entrou no seu ser. O medo também. Nunca ficou assim. Sempre foi corajoso e seguro nas suas resoluções, mesmo quando eram consideradas absurdas pelas outras pessoas. Além da insegurança e do medo, a tristeza teima em reinar na sua vida. Parece que abriu os olhos para a verdadeira realidade. Será que viveu sempre na ilusão? Por que não consegue ser feliz como antes? Fica revoltado com as notícias ruins veiculadas pelos meios de comunicação. “Porra, só más notícias!”. Não agüenta mais saber de terremotos, enchentes, assassinatos, estupros, guerras entre pais e filhos, políticos corruptos, valorização extrema da beleza e do dinheiro, drogas, doenças, destruição do meio ambiente, mortes em acidentes de trânsito... Deseja fazer algo para mudar a realidade. Por outro lado, se sente impotente diante de tantas tragédias da humanidade.

Uma escolha feita por ele o tortura até hoje. A pior escolha de sua vida. Suicídio é algo que passa na sua cabeça. Não quer fazer isso, porque pensa que Deus é o único que pode tirar a sua vida. Já implorou a Deus para atender o seu pedido de morrer. Luta para eliminar esse desejo triste. Anda muitas vezes sem rumo. Ele se sente perdido. Não sabe o que fazer. Não consegue traçar novos objetivos. Tem muita raiva de si mesmo. Por que pegou o carro naquela noite? Por que não chamou um táxi? A sua atitude provocou a morte de seu melhor amigo. Saiu tarde do trabalho naquele dia. Seu carro estava estacionado no cume de um morro alto. Seu amigo trabalhava junto com ele. Muito cansado, César entrou no carro, abaixou o freio de mão e deixou a marcha no ponto morto. Em vez de dar a partida, desmaiou de sono. Acordou sobressaltado e com dores na coluna. Do retrovisor, viu seu amigo prensado entre a traseira do seu carro e a dianteira do carro dele que estava estacionado alguns metros abaixo do pico do morro. O amigo gritou de dor. Quase entrou em surto ao vê-lo daquele jeito. Chamou o socorro. Chegou com vida no hospital, mas faleceu durante uma cirurgia de emergência.

De pé no ponto mais alto de uma pedra enorme e fincada na praia onde ambos costumavam passear, César está indeciso e exausto. Um vazio invade o seu coração. Ninguém o culpa pelo acidente. Foi uma fatalidade. Por que escolheu ficar muito cansado naquele dia? Não agüenta mais pensar no que fez com o seu amigo. Aos prantos, diz: “Pai do Céu, por favor, me leve embora daqui. Não quero mais viver.” De repente, um pássaro amarelo voa em sua direção e pousa no seu ombro esquerdo. Não sabe que pássaro é esse. A ave começa a cantar. Uma melodia linda e sublime. O sol brilha mais ainda. O vento sopra suavemente. César fecha os olhos. Abre os braços para sentir a brisa e o calor do sol. Ele gira, cai e adormece.

Lu Vieira

Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

segunda-feira, abril 26, 2010

Armadilhas

Desculpe por invadir assim a sua vida. Por mais que nos dias de hoje a privacidade não seja tratada com todo o respeito que merece ainda tenho receio de chegar assim sem ser convidado. Peço, por favor, que não feche este e-mail antes de ler até o final. Por mais estranho que pareça esta foi a única maneira que encontrei para chegar até você. Não que estejas longe dos meus olhos, pois todos os dias nos vemos e até compartilhamos nossa existência por alguns instantes, mas isso não é o bastante. Pelo menos para mim. A distância a que me refiro é este imenso abismo que a timidez depôs entre nós. E que me impede de revelar-lhe a verdade dos meus sentimentos. Não vá você pensar que o móvel de meus atos é uma paixão passageira, tara doentia ou simplesente uma fome carnal como é comum ver entre os homens que tratam as mulheres como pedaços de carne exposta no açougue. Não que seu corpo não seja formoso e desejável, muito pelo contrário até. Mas o que quero mesmo dizer é que meus sentimentos são puros e sinceros.

A razão de utilizar um meio indireto para chegar até você é a minha incerteza sobre a opinião que tens de mim. Apesar de sermos colegas tenho certeza que muito pouco tempo destinastes para me conhecer. Talvez por isso o que mais percebo vindo de ti é uma fria indiferença. Nessas horas ponho-me a sonhar e questionar-me. E se você me conhecesse de verdade? Será que ainda assim haveria frieza em seus olhos? Será que eles se voltariam em minha direção? Não sei. Tudo o que posso fazer é desejar que o conhecimento do meu verdadeiro eu toque o seu coração e assim a solidão seja expulsa do seu peito. Porque eu sei que aí se encontra um espaço vazio.

Certo de que poderei contar com a sua atenção e de que em breve poderemos nos reencontrar para que eu possa abrir meu coração e olhos nos olhos esperar uma resposta sua. Estou a sua disposição para qualquer data, hora e local que seja do seu agrado.

Um abraço daquele que te ama em segredo.
***

Mal podia se conter ao terminar de ler a mensagem. Queria rir e gritar alto. Fez um esforço para se controlar e respondeu o e-mail o mais rápido possível, informando local, data e hora. Em seguida deletou o original, a resposta e saiu do quarto da irmã o mais discretamente que pode. Nos lábios um sorriso sacana e na mente um plano ficava cada vez mais claro.

***

Quando entrou no quarto e viu que a mensagem não estava mais na caixa de entrada soube então que o peixe havia engolido a isca com anzol e tudo. Agora era só puxar a linha e assistir o animal se debater.

***

- Mana que bom que você veio comigo no shopping. Ando me sentindo meio sozinho.

- De nada maninho. - você nem imagina como esse passeio vai me fazer bem.


Andaram pra cima e pra baixo, rindo e olhando vitrines ao mesmo tempo que tentavam disfarçar a ansiedade. Conforme o tempo passava foram fluíndo em direção a praça de alimentação. Os olhos esperando um momento de distração do acompanhante para poder vasculhar o local em busca de qualquer um que pudesse ser estranho o bastante para se encaixar em suas expectativas. Escolheram uma mesa e ficaram por ali. A hora chegara. Frente a frente o duelo resumia-se não sacar mais ligeiro, mas a sumir mais rápido. Ele varreu o local mais uma vez com o olhar. Essa foi sua ruína.

- Cuida da minha bolsa enquanto eu vou no banheiro? - não esperou resposta. Saiu da mesa, não olhou pra trás, mas também não foi pro banheiro. Entrou numa loja e acomodou-se de modo que pudesse ver sem ser vista.

***

- Caio? É você?

- Sim?! Mas quem é o senhor?

- Marcos é o meu nome. Aquele negócio de Coroa Sarado é só pra usar no chat.

- Coroa o quê?

- Eu cheguei cedo e fiquei por ai. Já estava achando que você não viria mais. Quem bom que teve coragem. A propósito você é mais bonito ao vivo do que nas fotos.

- Que fotos? Do que você tá falando?

- Dessas fotos aqui.- mostrou-as no visor do celular. Houve um instante de silêncio. - Então vamos comer alguma coisa ou vamos direto pro meu apartamento?

- ...

Fim

Texto escrito a partir do blogue Once upon time e seu desafio:

Frase : E se você me conhecesse de verdade

Escreva uma história, um conto ou até mesmo uma fábula (nada de textos argumentativos) que contém a frase acima.


Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

domingo, abril 25, 2010

O vinho da alegria

Já tinha feito uma postagem aqui prometendo dar minha opinião sobre esse livro; então vamos lá.

Essa não é a primeira obra que leio deste autor, antes deste eu já havia lido Farenheit 451, logo a expectativa era enorme.

O livro trata de um verão na cida de Douglas Spalding. O ano? 1928. Durante um passeio no bosque o menino de 12 anos descobre que esta vivo. Após esse momento mágico de lucidez e revelação o mundo se abre diante de seus olhos e nada mais será o mesmo. Sorvendo cada dia como se fosse o último Douglas mostra-nos a cidade de Green Town. Município que abriga os mais inusitados habitantes. Duas bruxas, o inventor da máquina da felicidade, um assassino em série, uma senhora que ninguém acredita que um dia tenha sido jovem, um jovem jornalista que se apaixona por uma mulher idosa e vários outros personagens que entram e saem da vida do menino.

A princípio o livro pareceu-me arrastado e pouco interessante, mas conforme as páginas iam passando e o meio do verão foi chegando a narrativa engrenou e de repente me vi tão envolvido pela história que já estava totalmente incapaz de abandonar o livro no meio do caminho. Com sua genérica cidade interiorana Ray Bradbury consegue por-nos diante de situações inerentes a todos os seres humanos, a partida do melhor amigo, inveja entre vizinhas, a aproximação da morte e a busca pela felicidade. Tudo isso ele conseguiu encerrar dentro da sua minúscula cidade e no pequeno intervalo de tempo formado por um verão.

Não é um livro que eu recomendo a todos. Mas se você já leu algo dele e quer ampliar seu conhecimento essa é uma obra que vale a pena, ou se você gosta de devorar livros creio que este será um apetitoso quitute para o seu paladar.

Observações:

Na edição da Editora Nova Cultural foram encontrados os seguintes erros:




  • Página 63, 3º parágrafo --> "No instante eu que..." deveria ser "No instante em que..."



  • Página 89, 1º parágrafo --> "nas lateriais" deveria ser "nas laterais"


  • Página 158, 3º parágrafo --> No mesmo parágrafo Lavínia Nebbs aparece como Lavínia Bebbs.

Há outros erros, mas acredito que os exemplos acima sejam suficientes. No fundo nada que destruísse a obra, todavia creio que tanto o autor como nós leitores merecíamos um pouco mais de cuidado na hora da revisão.

Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

sexta-feira, abril 23, 2010

Ação

Podemos alcançar a excelência
Com atitude, com planejamento,
Na valorização da eficiência,
Na qualidade do comportamento...

Podemos alcançar a excelência
Quando, instigados ao conhecimento,
Valorizarmos sempre a competência,
O aprendizado e o desenvolvimento.

Devemos ter ações bem definidas
E as nossas estratégias concluídas,
Geradas com trabalho e persistência..

Se o nosso desafio nos for constante,
Na busca dessa meta, esse horizonte,
Podemos alcançar a excelência!


Conforme eu prometi ai acima está um dos sonetos do Hélio Cabral. Com o tempo postarei outros.



Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

domingo, abril 18, 2010

Pior só do que mal acompanhado

1º)Abriu a porta e acendeu a luz.
- Mas que porra é essa?
Havia penas, sangue e vísceras espalhadas pelo chão da sala. Deitada em suas almofadas, Fifa, a bola de pelos,dormia como se nada tivesse acontecido. Apesar das manchas de sangue no nariz.

2º)Secou-se. Enrolou a toalha na cintura e foi pro quarto. Sobre a cama camisa, cueca, meias, cinto e ...
-Cadê minha calça?
Num canto do cômodo, Fifa rolava feliz com seu novo brinquedo feito de jeans azul.

3º)O estômago já sonhava com o peito de frango que o aguardava sobre a mesa. A esta hora já descongelado e pronto para ser grelhado.
Quando chegou em casa, flagrou a gata sobre a mesa saboreando um delícioso picolé de frango.
...
-Cara quando vi a Fifa roendo meu almoço não agüentei. Agarrei ela pelo pescoço e enfiei a porrada.
- Realmente ela é um desastre natural. E agora pelo menos você se livrou dela?
- Que é isso rapaz? A gente briga e tudo, mas no final sempre fazemos as pazes. Bem se vê que você nunca nunca foi casado.

Texto escrito a partir do blogue Once upon time e seu desafio:

Frase : Ela é um desastre natural
Escreva uma história, um conto ou até mesmo uma fábula (nada de textos argumentativos) que contém a frase acima.

De brinde vai esse aqui:

Professora - Na frase "Ela é um desastre natural", quem é o sujeito?
Aluno - Minha sogra, professora.

Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

sexta-feira, abril 16, 2010

Torta de ricota

Eis que já existia no meu local de trabalho a tradição do recém chegado dar a rosca. E comigo não foi diferente. Um dia fui forçado a dar a rosca. No começo até tive medo, pensei que não seria legal. Dar a rosca pra todo mundo no local de trabalho não parecia uma boa ideia. Com passar do tempo gostei e hoje já me aventurei a dar outras coisas também. Foi o caso da famigerada torta de ricota.


Minha esposa achou a receita por aí e fez lá em casa. Foi um sucesso. Tanto eu gostei que ela repetiu a dose para que eu trouxesse para o serviço e compartilhasse a delícia com o pessoal do escritório. A pobre torta não durou dez minutos depois de entregue à mesinha do café. Gostaram tanto que muitos exigiram a receita e para satisfazê-los aqui vai ela.



Ingredientes:

01 lata de leite condensado

02 latas de leite (use a lata vazia para medir)

05 gemas peneiradas

05 claras em neve

04 colheres (sopa) de açucar

03 colheres (sopa) de amido de milho

0,5 KG de ricota picada

01 colher (chá) de essência de baunilha

100 g de uvas passas escuras ou claras sem sementes

açúcar e canela para polvilhar

Modo de preparo

1.Bata tudo no liquidificador, exceto as claras e as uvas passas.

2.Passe para uma tigela e agregue as passas e a clara em neve. Disponha a massa numa forma untada e enfarinhada, com cerca de 4cm de altura.

3.Leve ao forno médio (200ºC) preaquecido até ficar ligeiramente dourada por cima. Retire do forno, deixe amornar um pouco e polvilhe açúcar e canela.

Abaixo fotos da pobre vítima:


E a propósito vocês já deram a rosca no trabalho?

Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

É preciso navegar

Quero viver intensamente a vida...
Sorrir, sonhar, sentir, lutar, sofrer...
Agindo de maneira destemida
Fazendo – sem ter medo de perder!

Não quero ser a mão adormecida
E nem a voz sumida, sem prazer.
Eu quero ser o gesto, a mão amiga,
O ato prazeroso de viver!

Prefiro navegar por tempestades,
Testando as minhas forças, as destrezas
“Por mares nunca d’antes navegados!”

Eu quero novos portos descobrir.
Pra nunca naufragar: Não ter fraquezas!
Coragem: Para nunca desistir!


Conforme eu prometi ai acima está um dos sonetos do Hélio Cabral. Com o tempo postarei outros.



Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

terça-feira, abril 13, 2010

Depois daquela viagem

É o título do livro autobiográfico de Valéria Piassa Polizzi. Ela conta como o vírus da AIDS entrou na sua vida, o viver sem falar que o possui e o viver depois que revelou para todas as pessoas do seu convívio que tem a AIDS. Ela descobriu a doença aos 18 anos de idade antes de uma viagem para os Estados Unidos, pois se queixava de uma dor no estômago. Na época de sua descoberta, a AIDS era dita como uma doença que atingia apenas os gays e havia poucas mulheres contaminadas. Os próprios médicos ficaram surpresos com Valéria ser portadora do HIV. Não é preciso dizer aqui a reação da jovem. Desconfiou, claro. Alguma coisa estava errada nos resultados dos exames. Quando se confirmaram que tem mesmo o HIV, ela não conseguia mais fazer planos em longo prazo para a sua vida. Escutava e via o tempo todo as propagandas com estes dizeres: “AIDS mata”. Ouvia o “tique-taque” do relógio. Não conseguia dizer que é soropositiva. Os próprios médicos a aconselharam a não contar. O preconceito era muito grande. Penso que ainda é. Somente os seus pais e seus tios mais próximos sabiam da história. Seus pais não conseguiam conversar sobre o assunto com ela. A única pessoa com quem Valéria conversava se sentindo como uma pessoa com AIDS era a psicóloga Sylvia. No seu livro diz: “Mais difícil do que ter o vírus da AIDS era ter que fingir que não tinha”.

Eu me lembro das propagandas “AIDS mata”. Eram de assustar mesmo. Quando Valéria descobriu ser soropositiva, eu estava com 15 anos de idade. Foram ditas muitas coisas absurdas na época. “Não beijem na boca de quem tem AIDS”. “Não encostem no sangue”. “Não sentem no vaso sanitário”. Na escola, eu e meus colegas tínhamos medo. Valéria conta de uma palestra nada esclarecedora que assistiu no seu colégio. Como falavam que a AIDS só atingia as pessoas promíscuas, os usuários de drogas e os gays, davam a entender que o restante das pessoas estava longe de se contaminar com o vírus. A jovem já sabia ser portadora do HIV, mas não conseguiu criar coragem para contar a sua história naquela palestra. Era virgem e nunca usou drogas. Como se contaminou? Na relação sexual com o seu primeiro namorado, quando tinha 16 anos de idade. E sem usar a camisinha. Ela conheceu o rapaz durante uma viagem de navio para a Argentina no Natal de 1986 com o seu pai e sua irmã mais nova. Já estavam namorando havia seis meses quando resolveram transar pela primeira vez.

Viajou duas vezes aos Estados Unidos já sabendo ser uma moça com o HIV. A primeira viagem foi em 1989 e ficou hospedada na casa de seus tios. E a segunda, em 1993, quando estudou inglês em uma universidade de San Diego e viveu em alojamento para estudantes. Nesse país percebeu que não se falavam “AIDS mata”. Lá se diziam sobre a prevenção e como quem tem o vírus deve se cuidar. Antes de ir aos Estados Unidos pela segunda vez, chegou a fazer uma faculdade no Brasil. Abandonou, porque concluiu que não daria tempo de viver naquilo que iria estudar. Como no Brasil falavam que quem possui o HIV conseguia viver por 10 anos, Valéria fez as contas e viu que o décimo ano de sua vida com AIDS seria exatamente o ano que terminaria a faculdade. Viajar e estudar inglês ao mesmo tempo era o que queria fazer. Valéria não viveu reclusa. Pelo contrário, desejou e conheceu pessoas de diferentes países e culturas.

“Depois daquela viagem” foi escrito em linguagem simples, na forma de bate-papo. Parece se destinar ao público jovem. No entanto, a leitura é interessante para todo tipo de público, especialmente aos pais, médicos, educadores e pessoas que conhecem alguém ser portador do HIV. Para mim, a leitura foi bastante envolvente e me deu muitas reflexões como, por exemplo, não conhecer nenhum amigo com vírus da AIDS. Graças a Deus, nenhum dos meus amigos o tem. Mas... E se possui? Conte-me. Não vou deixar de ser sua amiga só por causa de um vírus.

Além de relatar a sua história e dos alertas dados sobre os cuidados para não contrair o HIV, Valéria também trata da violência que sofreu do seu primeiro namorado. E aconselha não ter vergonha para denunciar tal ato. Faz um agradecimento aos doadores de sangue que ela precisou tanto nos momentos mais difíceis.

Gosto de registrar como um livro parou em minhas mãos. O exemplar de “Depois daquela viagem” que está comigo pertence ao meu amigo Luís Antônio, ex-colega de trabalho. Ele o emprestou para mim após uma conversa sobre um livro que eu havia lido e ele citou a história de Valéria. Obrigada, Luís Antônio! Faço questão de constar aqui o meu agradecimento à autora por escrever de forma corajosa. Ela resolveu escrever por insistência de seus amigos após ficar muito doente e ser hospitalizada. Transcrevo trecho do livro dela:

“Já devia ter começado a escrever há algum tempo mas, como escrever sobre a vida da gente não é nada fácil, vivo adiando. Ainda hoje me ligaram a Priscila e o Cristiano, e os dois me cobraram:
- Já começou a escreveu o livro?
Não. E já teria desistido se na semana passada não tivesse ido na Sylvia e, por coincidência ou sei lá o quê, ela tivesse dado a mesma ideia: escrever. Eu disse que já havia pensado naquilo, só que achava muita responsabilidade.
- Não escrever também é – ela respondeu. E isto não saiu da minha cabeça a semana inteira.”

Após “Depois daquela viagem”, lançado em 1997 e traduzido na Itália, Alemanha, Áustria, Portugal, Espanha e em diversos países da América Latina, Valéria escreveu mais livros não autobiográficos:

- “Papo de Garota” (2001) – compilação de crônicas publicadas na revista “Atrevida”, onde foi colunista;
- “Enquanto estamos crescendo” (2003) – livro de crônicas, onde criou personagens ficcionais;
- “Grandes amigos – Pais e filhos” (2004) – com vários autores.

Hoje Valéria participa de seminários, encontros e mesas redondas e dá palestras em escolas e faculdades sobre o tema AIDS. Casou com um austríaco e descasou. Concluiu o curso de Comunicação Social - Jornalismo em 2007. Trabalha como jornalista e cursa pós-graduação em Criação Literária. E... Adivinhem? Ela tem um blog! Visitem: http://valeriapiassapolizzi.blogspot.com/

Lu Vieira

Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo esquerdo e receba mais posts no seu email. É grátis!

segunda-feira, abril 12, 2010

Estranhos prazeres

A noção de tempo e espaço havia se diluído. O passado não existia mais e o futuro condensava-se em um único ponto. O agora. Naquele minúsculo intervalo de tempo todo o espaço havia desaparecido de sua percepção. Os mais místicos diriam que encontrava-se em transe. Isolado da realidade, olhos fixos, dedos correndo sobre a superfície fria e indiferente. O prazer encontrava-se em suas mãos. Tudo o que devia fazer era apertar, aumentar a pressão até que ela não resistisse mais e ele pudesse ouvir o estalo final. Para ela não haveria esperança ou qualquer chance de resistência.

Talvez por isso alguns considerassem atitudes como as suas insanas, psicóticas até. Mas ele tentava não ligar para os juízos alheios. Quando muito conseguia pensar em si mesmo como uma vítima. Sim, era isso mesmo. Uma vítima sendo seguidamente tentada e seduzida. Sempre arrastado pelo desejo, não importando a força que empenhasse nas suas tentativas de resistência, no fim era sempre derrotado e acabava se entregando àquela destruição sádica e desprovida de sentido. Apesar de todo o prazer que sentia, logo depois sobrevinha o remorso e a vergonha. Tinha medo de que o pegassem. De ser descoberto e do que poderia acontecer-lhe caso sua pequena “excentricidade” fosse revelada. Até aquele momento tinha sido bem sucedido em ocultar-se. Sempre conseguindo uma forma discreta e segura de se livrar das suas vítimas após estar saciado. De modo que pretendia continuar agindo ainda por muito tempo.

Não tinha, ao certo, conhecimento sobre o que desencadeava a sua perdição. Seriam as formas arredondadas? Seria a delicadeza? Ou seria apenas a vontade de sentir-se todo-poderoso e prevalecer sobre o destino alheio, uma forma de compensação pela mediocridade de sua existência.

Seus dias esmaecidos e insossos caracterizavam-se pela inferioridade de suas atitudes e pela covardia diante dos conflitos no trabalho. No casamento as coisas não eram muito diferentes. Espezinhado pela esposa, dominado pelos filhos, acoado pela sogra e perseguido pelo cachorro, talvez aquilo fosse seu último grito de liberdade.

Em êxtase começou a apertar com as duas mãos e a torcer também. Queria tudo e queria agora. Logo ouviu os estalos e uma onda de prazer percorreu todo o seu corpo. Em sua mente apenas o gozo e o pensamento de não posso parar com isso agora.

Enquanto o som dos estalos domina a casa um vulto de mulher surge silenciosamente por trás dele e diz:

- Porra Henrique! A casa toda por arrumar e você aí estourando plástico bolha!


Texto escrito a partir do blogue Once upon time e seu desafio:

Frase : Não posso parar com isso agora

Escreva uma história, um conto ou até mesmo uma fábula (nada de textos argumentativos) que contém a frase acima.

Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

sexta-feira, abril 09, 2010

Igualdade

Eu quero o rico junto ao miserável,
Num abraço sincero e comovente,
Ambos chorando um choro inabalável,
Ambos sorrindo um riso reluzente.


Eu quero o homem mais bondoso e amável,
Vivendo a liberdade simplesmente;
E quero um mundo sempre admirável,
Armado apenas de um amor veemente.


Que a paz supere tudo quanto é guerra
E a caridade movimente a terra;
Que Deus se faça em cada um de nós.


Não quero um sonho! Quero mais que um fato.
Quero a bondade sendo o nosso ato
E a igualdade sendo a nossa voz!


Conforme eu prometi ai acima está um dos sonetos do Hélio Cabral. Com o tempo postarei outros.


Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

quarta-feira, abril 07, 2010

Lista de leitura 2010

A idéia é registrar aqui minhas leituras durante o ano e se possível linquar as respectivas resenhas.

  1. Capitães da areia - Jorge Amado
  2. O Vinho da Alegria - Ray Bradbury
  3. História das Cruzadas. Vol I - Joseph François Michaud
  4. O Senhor dos Anéis. A Sociedade do Anel - J.R.R. Tolkien
  5. História das Cruzadas. Vol II - Joseph François Michaud
  6. História das Cruzadas. Vol III - Joseph François Michaud
  7. A Pro - Garth Ennis
  8. O Senhor dos Anéis as Duas Torres - J.R.R. Tolkien
  9. Outra volta do parafuso - Henry James
  10. O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry



Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

segunda-feira, abril 05, 2010

As crianças e os óculos

Logo após o término dos espetáculos da Noite de Gala apresentados pelos alunos da Escola de Teatro Bolshoi no Brasil que comentei no post Bolshoi e Giselle , minha amiga me cutucou e disse: “Olha que menina linda!”. De fato, era linda mesmo. Tratava-se de uma bebezinha de quase um ano de idade no colo de uma mulher. Quando a vi, elas já iam embora. Pude perceber que a bebê me olhava e sorri com vontade de pegá-la para dar beijos e abraços. Aí veio a revelação: “Lu, ela olhou o tempo todo para você durante a noite. Via você gritar, falar “Bravo” e bater palmas. Mesmo que outras pessoas fizessem a mesma coisa que você, ela olhava só para você.” Ahhhh... Por que não vi a fofa antes?! A mulher e a menininha estavam sentadas exatamente na minha frente! No entanto, estávamos sentadas na arquibancada e virávamos o pescoço para o lado direito a fim de ver as apresentações dos alunos. Eu fiquei muito concentrada nos espetáculos e minha companhia nem quis me perturbar.

Minha amiga perguntou: “Por que será que você chamou tanto a atenção dela?”. Respondi: “Por causa dos meus óculos.” Sim, eu uso óculos de grau desde os quinze anos de idade, pois tenho miopia e astigmatismo. Eu notava que os pequeninos me observavam intensamente e não sabia o motivo disso. Achava que eles percebiam o quanto gosto de crianças. Um dia soube por uma pessoa que são os óculos que chamam a atenção deles. Quando os pais ou pessoas próximas das crianças pequenas não os utilizam, elas estranham muito ao ver alguém os usando. É como se elas estivessem percebendo que temos “quatro olhos”. Quando noto o olhar fixo em mim, às vezes, tiro os óculos e depois os ponho de volta no meu rosto. Algumas ficam ainda mais fascinadas. Aí não param de me fitar mesmo. Culpa minha.

Não são apenas os óculos de grau que atraem a atenção dos pequenos. Os óculos escuros protetores dos raios solares também têm o mesmo efeito. Já perceberam o olhar fixo de uma criança pequena em vocês quando usam óculos?

Lu Vieira

Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo esquerdo e receba mais posts no seu email. É grátis!

quinta-feira, abril 01, 2010

Privações




A dúvida derrota a nossa vida.

A dúvida destrói as ambições

E faz de nós insetos na retida

Vidraça suja das limitações.



O medo é uma atitude desvalida,

Vai dominando nossas emoções;

Perdemos tudo o que reserva a vida

E conseguimos só desilusões.



Ao se inibir, ao se carpir pro mundo,

Sempre esquecemos o ideal profundo

E nos perdemos nessa calmaria...



Quem não se arrisca em águas diferentes

Enfrenta apenas ventos complacentes,

E naufraga em sua própria covardia.



Conforme eu prometi ai acima está um dos sonetos do Hélio Cabral. Com o tempo postarei outros.