quarta-feira, outubro 29, 2008

Ayua. Parte III

Olhou e não reconheceu o lugar onde se encontrava. De fato tridimensional era um conceito totalmente exótico para ele. Olhos fechavam e abriam desordenadamente. A claridade do local infligia dor e desorientação. Um movimento espasmódico percorreu-lhe as fibras. Sensações. Milhares de sensações bombardeavam-no por todos os lados. Não havia parâmetros. Não havia padrões para comparar. Tudo acontecera tão rápido. Ele não estava preparado. Essa era a verdade. Agira precipitadamente e agora não conseguia controlar o resultado de seus atos. Emitiu um som inarticulado e rouco. Dentro do cérebro corria em todas as direções tentando compreender de que forma aquele corpo funcionava. Mexendo onde não devia aumentava o descontrole e ampliava o caos e a destruição. Em algum lugar deveria haver um manual. Um guia. Instruções de uso. Qualquer coisa que o pudesse ajudar a tomar as rédeas da situação. Não encontrou coisa alguma que pudesse salvá-lo naquele momento de luta pela sobrevivência. Tentou fugir, voltar ao seu plano existencial. Entretanto agora era demasiado tarde para essa manobra. Aquele corpo não sonhava mais, logo não havia como evadir-se dali. Lançou um grito final ao notar que seu destino estava atrelado a um corpo que não podia comandar e nem abandonar.
O corpo debateu-se por mais alguns instantes até que parou totalmente inerte e sem vida e sem alma.
Ayua agora já não existia mais.

Fim

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Ayua. Parte II

- Dor?! O que você está falando? O que você quer de mim - perguntou enquanto sentava na cama e encolhia as pernas para junto de si.
- Meu nome é Ayua. Como eu já disse, eu sou um alienígena. Não necessariamente isso quer dizer que eu seja de outro planeta. Eu sou daqui da Terra mesmo. Apenas vivo em um outro plano de existência. Há muito tempo perambulo solitário pelo meu mundo. E o tédio tornou-se tão grande que já não o suporto mais. Dessa forma quando o encontrei vi em você uma chance única e decidi entrar em contato com a espécie humana para sanar minhas angústias.
- E o que eu tenho a ver com isso?
Sem demonstrar afetação ou mesmo mudar o tom de voz ele declarou de forma clara:
- Eu necessito do seu corpo para que eu possa me estabelecer em seu mundo. Não é nada pessoal. Só que você é saudável e como através dos seus sonhos eu encontrei um portal aberto para o seu mundo, isso acaba indicando você como o espécime ideal para meus planos - estendeu os braços adiante enquanto deslizava em direção a cama.
Houve um grito de pavor verdadeiro no mundo real. Enquanto na mente do futuro hospedeiro uma batalha era travada. O som do grito desvanecia na atmosfera e duas mentes executavam um duelo de morte. Ayua sempre existira como um ser imaterial. O intangível era o seu habitat. Era uma luta muito desigual e por isso mesmo injusta. Do alto de uma crueldade infantil a entidade fez nascer a ilusão de que poderia ser derrotada. De que haveria uma esperança para sua vítima. Porém isso não demorou mais do que um efêmero instante que foi seguido pela total obliteração da consciência adversária.
Estava feito. A batalha fora vencida. O corpo tinha agora um único habitante. E Ayua teria se sentido feliz, não fosse um pequeno detalhe. Em toda sua existência ele nunca possuíra um corpo de verdade. Sempre existira como um conglomerado de idéias, lembranças e energia que vagava imerso em um universo imaterial.


Continua...

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Ayua. Parte I

O conto abaixo escrevi durante a semana passada após ser inspirado pelo trabalho da Lidia Brown do blog Delírios, sonhos, artes, ilustrações, design, escritos espero que confiram o trabalho dela e que apreciem o conto. E para acalmar os mais ansiosos informo que a história está dividida em três partes.




Acordou? Talvez. Ainda não sabia ao certo. Pelo menos abrira os olhos. Demorou algum tempo até acostumar-se com a escuridão e tomar consciência de onde se encontrava. Logo notou que não estava mais sozinho. A criatura estranha que surgira diante de si lembrava algo como um arlequim com o rosto deformado. Um palhaço de preto e branco. Uma aparição terrível para àquelas horas da madrugada. Apesar de um arrepio percorrer-lhe a espinha ele sabia que não devia temer. Aquilo era um sonho. Disso ele tinha quase certeza. Mesmo assim o medo não o abandonou. Pensou em fechar os olhos e ignorar a aparição, porém, sua curiosidade foi maior que o medo. E lutando contra toda a sua racionalidade não foi sem esforço que dirigiu sua voz ao estranho:
- Quem é você?
- Não tenha medo. Não vim para lhe fazer o mal. Sou uma entidade de outros planos existenciais. Vagava sempre solitário até que o encontrei. Desde então venho acompanhando os seus sonhos. Observando suas aventuras, alegrias e tristezas. Tudo isso me fez muito bem. Tanto é que agora resolvi que devemos estabelecer um contato mais estreito entre nós.
A voz parecia não vir do corpo, simplesmente surgia dentro da sua cabeça como se fosse um pensamento que lhe pertencesse. E isso só serviu para reforçar a impressão de fantasia que a cena inspirava.
- Eu estou sonhando? Não é?
- Sim, entretanto isso não faz muita diferença agora - esgarçou o rosto num arremedo de sorriso. O que deveria ser um gesto tranqüilizador só conseguiu infundir mais apreensão àquela situação.
Apesar de alto e esguio o corpo do visitante parecia dominar todo o espaço contido no quarto. Mesclando-se as sombras pré-existentes. Diluíndo-se em nada e tomando conta de tudo. O corpo era humano. Ao menos assim parecia. A cabeça, no entanto, era uma massa mutante que oscilava constantemente. Olhos, orelhas, boca e nariz passeavam a esmo como se estivessem dentro de um líquido em constante ebulição. Trazendo à memória uma pintura cubista. De qualquer forma aquilo não poderia existir no mundo de verdade. Com esse raciocínio em mente o dono da casa fez todo o possível para despertar e libertar-se daquele pesadelo. Porém não conseguia notar nenhuma mudança no seu estado de consciência. O suor grudava o seu corpo no lençol. E a respiração tornou-se irregular. O visitante, imóvel, observava-o se debater na cama e com paciência esperava que ele parasse com aqueles procedimentos inócuos e ridículos.
- O que você fez comigo?Vai embora! Me deixa em paz.
- Por favor, não resista. Nós podemos tornar isso o menos doloroso possível.

Continua...

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terça-feira, outubro 28, 2008

Citações Nº 24. Miguel Unamuno


Quanto menos se lê, mais dano provoca o que se lê.

(Miguel Unamuno)

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segunda-feira, outubro 27, 2008

Jogos mortais V

O texto abaixo escrevi para um concurso da internet que permitia no máximo 500 caracteres contanto até os espaços em branco.  Primeiramente escrevi a história sem me importar muito com o limite imposto. Consegui uma história curta com início, meio e fim. O resultado foi de aproximadamente uns 580 toques. Em seguida fui em busca de sinônimos que necessitassem menos letras, depois puxei a navalha e cortei tudo o que era redundante, troquei os tempos verbais de alguns trechos e então cheguei ao resultado final. Um conto com 497 caracteres. Espero que apreciem.

 

Preso na sala escura descobre-se frente à máquina de escrever.

- Tu tens cinco minutos pra escreveres um texto original ou sofrerás uma morte horrível – diz a voz oculta.

Dedos trêmulos e imobilizados sobre as teclas. O tempo avança. O bloqueio criativo foi seu fim. O desfecho do desafio? Um misto de sangue, suor e lágrimas.

O zelador leva o cadáver embora e o editor questiona o gerente de RH:

- Tem certeza que esse é o melhor jeito de conseguir o redator?

- Se você quer o melhor esse é o caminho.

 

 

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sexta-feira, outubro 24, 2008

Meme 3X4

Recebi esse meme questionário da amiga Sah Elizabeth do Vida Plena e Bem-Estar. Ai está a minha parte da tarefa. Embaixo eu convidei cinco pessoas para participarem também.



Nome: Luciano dos Santos Alves
Idade: 31
Local de Nascimento: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Peso: 112 kg.
Altura: 1,90m
Apelido de infância: Téo

Qual é a sua maior qualidade? Paciência eu acho.

E seu maior defeito? Ter absoluta certeza de que não tenho defeitos.

Qual é a característica mais importante em um homem?
Coerência consigo mesmo.

E em uma mulher? Simpatia! Isso derruba qualquer um.

Qual é a sua idéia de felicidade?Um mar de tédio e marasmo pontilhado por pequenas ilhas de alegria.

E o que seria a maior das tragédias? Desistir da vida.

Quem você gostaria de ser se não fosse você mesmo? Estou bem assim. Não consigo ver-me como sendo outra pessoa.

E onde gostaria de viver? No litoral catarinense.

Qual é sua cor favorita? Verde.

E o seu desenho animado? Simpsons!

Quais são os seus escritores preferidos? Mika Waltari, Guy de Maupassant, Isaac Assimov e ...vai longe essa lista.

E seus cantores e / ou grupos musicais? Pink Floyd, Paralamas do sucesso, Chico Buarque, Bethânia, Clara Nunes e ...essa é outra lista sem fim.

O que te faz feliz instantaneamente? Minha filha.

Quais dons você gostaria de possuir? O da música.

Tem medo da morte? Não.

Quem é seu personagem de ficção favorito? Homer Simpsom.

Qual defeito é mais fácil de perdoar? Egoísmo.

Qual é o lema de sua vida? A paciência é uma virtude a ser desenvolvida.

Qual sua maior extravagância? Meus livros.

Qual sua viagem preferida? Qualquer lugar que eu ainda não fui.

Se pudesse salvar apenas um objeto de um incêndio, qual seria? Um livro.

Qual é o maior amor de sua vida? Minha filha.

Onde e quando foi mais feliz? Estou feliz aqui e agora.

Qual é sua ocupação favorita? Viajar, ler e filmes.

Pensa em ter filhos? Não. Já tenho.

Quantos? Uma.

Um animal de estimação: Um cachorro!

Uma atividade física: Artes marciais.

Um esporte: Peteca.

Um prato que sabe fazer: Comida congelada.

Uma comida que adora: Lasanha.

Uma invenção tecnológica sem a qual não vive: Fogo!

Gasta mais dinheiro com: Sobrevivência.

Uma inabilidade: Trabalhos manuais.

O que não faria em nome da vaidade? Plástica.

Uma mania: largar roupa pela casa.

Uma saudade: dos amigos que ficaram pelo caminho.

O primeiro beijo:Um susto. Na parte traseira de uma kombi a caminho do distrito industrial de Manaus. Beijado de repente por uma amiga da minha irmã.

São estas as 05 pessoas convidadas.E agora é esperar para ver o que vai dar.

As aventuras de uma brasileira no Egito

Segundo Caderno

cum versare: palavras que caminham

Começo, meio e fim

Futura boneca

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No trabalho. Nº 05. Chefe babaca.

Questionado por um subalterno, após ter descumprido uma orientação de sua própria autoria, o gerente brinda-nos com essa elegante pérola das relações interpessoais:

- Eu não entendo por que vocês ficam querendo controlar o que eu faço. Eu sou gerente, não devo satisfações a niguém. Eu sou o pombo grande. E o pombo grande caga no pombo pequeno.


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quinta-feira, outubro 23, 2008

Acidente na BR-101.

Hoje pelas sete horas da manhã a caminho do trabalho pela BR-101 passando um pouco o trevo de forquilhinhas noto que o trânsito vai reduzindo sua velocidade até que para totalmente. Pelo retrovisor vejo a ambulância aproximar-se. Dou passagem e fico a torcer que o acidente só ocupe meia pista. Os automóveis reiniciam seu trajeto lentamente. Fico feliz e vou em frente. Não demora muito e minha alegria vai pras cucuias. Lá na frente tem um carro com a frente destruída. Até ai normal. Se o carro em questão não estivesse na pista contrária, ou seja, fisicamente ele não atrapalhava em nada o fluxo do meu lado da BR. Entretanto muitos faziam questão de diminuir e até parar seus carros para observar o acidente.
Então vamos à questão do dia:
- O que essas pessoas querem atrapalhando o trânsito desse jeito?
Que tipo de prazer elas conseguem obter admirando a desgraça alheia? Querem sentir-se mais "vivas" olhando para os mortos? Querem ter uma história de horror e sangue pra contar quando chegar ao trabalho?Ou será que os seres humanos são fascinados por morte e destruição? E não é só nas estradas que isso acontece. É só alguém morrer ou desmaiar na rua que logo junta um círculo de curiosos que estão ali ninguém sabe por que e só servem para atrapalhar o socorro da vítima. Parece que essas pessoas não têm horários, não tem empregos ou qualquer outra atividade útil. Vagam pelas cidades em bandos caçando a próxima desgraça para que possam voar ao redor iguais a urubus esperando a carniça.
Será que isso só acontece aqui ou é um sintoma da humanidade? Será que eu também adoro uma desgraça e estou aqui fazendo c* doce só pra poder falar mal dos outros? Tantas perguntas... Será que alguém ai tem uma resposta?


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quarta-feira, outubro 22, 2008

Almoço.

- O tempero perfeito pra qualquer almoço?
- Uma boa companhia.


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terça-feira, outubro 21, 2008

Mirante em Joinville



Eu morava em algum lugar nessa imensidão ai em baixo.


Por do sol em Joinville.


Eu bancando o turista no mirante em Joinville.
Isso foi em 06/10/2008.

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segunda-feira, outubro 20, 2008

Frases Nº 15. Integridade

Não importa se as pessoas te consideram grosso, cretino ou insensível, pois na hora de dormir é consigo que você vai se confrontar. E então de nada servirá a opinião alheia.


"Trabalhe de acordo com suas crenças e então dormirás em paz."


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Coisas de casal. Nº 09

Ela - A sinceridade é tudo.
Ele - Não tem um ditado que diz:
"Quem tudo quer tudo perde?"
Ela - Babaca!

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quinta-feira, outubro 02, 2008

Saudades

"SAUDADE É UM POUCO COMO A FOME. SÓ PASSA QUANDO SE COME A PRESENÇA."

(Clarice Lispector)


Independente daquela discussão de ser uma palavra lusófona que a maioria dos tradutores sofre para reproduzir em suas línguas natais a saudade é com certeza um sentimento que faz parte da humanidade. Os sentimentos são sempre muito democráticos ao escolher quem eles visitam. Amor, ódio, compaixão, raiva e a saudade entre tantos outros não querem saber se o indivíduo é brasileiro, chinês ou africano. Os sentimentos simplesmente vão aonde querem. E assim é com a saudade. Talvez ela não tenha uma palavra específica em todas as línguas do mundo, mas nem por isso ela deixa de ser um sentimento universal. E mesmo todo esse cosmopolismo não a livra do seu destino que é encontrar a morte.
A saudade nasce pra morrer. Na verdade ela nasce para ser assassinada. Eis ai um crime que ninguém faz questão de castigar. Ao contrário, o ato de matar a saudade, já é em si um prêmio ao criminoso. Digo aos criminosos. Visto que este é um crime que não se comete sozinho. Há no mínimo um cúmplice isso quando não é um grupo inteiro a eliminar o sentimento em um grande linchamento cheio de beijos e abraços.
Mas ai eu me pergunto, o que acontece quando a saudade não morre. O que vem depois que ela percebe que o objetivo máximo da sua existência não será alcançado e que ela irá sobreviver muito mais tempo do que seria aceitável para alguém da sua espécie. No que se transforma esse sentimento? Em amargura, desespero, rancor, quem sabe o que vira uma saudade que não se mata? Ficará ela vagando pelo nosso coração em busca de um lugar para repousar? Ou ela simplesmente se rebela e passa a açoitar o nosso peito com lembranças?
Talvez matar as saudades sejam tanto um ato de misericórdia quanto de auto-preservação. Misericórdia por ajudar alguém a ter um descanso pacífico e auto-preservação por garantir que não seremos submetidos à escravidão sob o jugo de um sentimento frustrado.

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