quarta-feira, janeiro 31, 2007

O lago dos cisnes. Parte IV

Vencida a batalha. O lago tinto de sangue. O príncipe transformado em uma massa sangrenta e exausta agarrou sua mulher cisne e retornou até o ponto onde deixara seu cavalo. Ali desmaiou em sono profundo até de noite.
Quando a lua cheia ia alta no céu Siegfried deu sinais de acordar. Ao seu lado a bela jovem aguardava ansiosa pelo momento em que ele acordaria. Trazia firme em suas mãos a espada do jovem guerreiro.
Ele abriu os olhos e viu a sua dama ao seu lado. Com voz fraca e vacilante disse:
- Eu sabia que você seria minha desde o primeiro momento que a vi.
Ela ficou muda. Em pé. Segurando a espada.
- Uma feiticeira profetizou que eu deveria salvar uma jovem que fora encantada. E que essa jovem ficaria comigo até o fim da minha vida. Procurei por muitos países e enfim achei você. Agora que estás livre daqueles pássaros podemos ir ao castelo de meu pai onde nos casaremos e seremos felizes. – ele permaneceu deitado. Ainda estava muito cansado por causa do violento combate.
Ela apertou o cabo da espada em suas mãos.
- Diga algo, por favor. Deixe-me ouvir sua voz.
Ela ergueu a espada e feriu-o no abdômen. O rosto do jovem tornou-se uma máscara de espanto e terror. O sangue vertia quente e viscoso nas mãos de Siegfried.


Continua...

terça-feira, janeiro 30, 2007

O lago dos cisnes. Parte III

Com todo cuidado e cautela pulou de rocha em rocha até chegar a mais alta de todas. Onde repousava sua amada. Ela agora estava sentada sobre o ninho e tinha ao seu lado o cisne que durante a noite ficara aconchegado em seus braços. Com um movimento rápido Sigfried passou o laço em torno de sua desejada. O outro cisne sentiu-se afrontado e avançou em direção ao príncipe. Batendo asas e grasnando a plenos pulmões. O jovem simplesmente chutou-o para o lago. Onde caiu morto. Com alguns nós a encantada estava imobilizada. Preparavam-se pra descer quando centenas de vozes romperam à quietude do lago. E o som da batida de milhares de asas se fez ouvir. O campeão ergueu sua espada e virou-se em direção aos sons. Levantaram vôo e vinham em seu encalço. Patos, cisnes, gansos e marrecos. Não havia dúvidas. Era um ataque. Soltou o cisne no chão e começou a brandir sua lâmina. A cada golpe, sangue, suor e penas eram derramados. Atacavam por todos os lados. Incessantes e infatigáveis. O chão ia tornando-se uma massa de corpos mutilados e sem vida. O sangue escorria pela pedra e maculava as águas do lago. Bicos e patas atingiam o corpo do nobre cavaleiro, mas ele continuava a lutar com toda a bravura e coragem possíveis. Mesmo assim teve que recuar. Nesse movimento pisou o ninho e esmagou os ovos que ali estavam guardados. Seus músculos ardiam e a respiração estava começando a ofegar. Os inimigos eram muitos e estavam dispostos a doar a vida para proteger a bela cantora. O sangue e o suor cobriam o corpo de Siegfried. Seus olhos ardiam com as impurezas que escorriam para dentro de suas órbitas. Mesmo assim ele não parou de brandir sua espada até que o último dos inimigos estivesse deitado ao chão com o corpo devidamente mutilado e inerte.


Continua...

segunda-feira, janeiro 29, 2007

O lago dos cisnes. Parte II

Ia avançar e declarar seu amor àquela Vênus do lago quando surgiu o primeiro raio de sol e transformou aquela linda mulher num cisne branco com penas pretas na cabeça.
Sua procura finalmente chegara ao fim. A profecia se cumpriria e poderia retornar à casa de seus pais. Um sorriso formou-se em seus lábios ao pensar na profecia. “Ao completar vinte e um anos o príncipe Sigfried deve partir em busca de uma jovem encantada que ele deve libertar de um terrível feitiço. Essa jovem será a mulher que acompanhará o príncipe pelo resto de sua vida. Ela ficará ao lado do príncipe Sigfried até que a morte venha buscá-lo.” Então aquela seria sua esposa para o resto de sua vida. Com toda aquela beleza ela seria uma companhia perfeita para um jovem príncipe que em breve se tornaria um jovem rei.
Se ele tinha que fazer algo iria fazer agora. Voltou ao cavalo. Pegou sua refulgente espada e uma corda. Partiu em direção à pedra a fim de capturar sua futura rainha. Enquanto avançava por entre os matos e arbustos, preparava um laço para passar em volta do pescoço de sua amada. Prendendo-a até de noite quando sob a luz do luar ela se revelaria, ele pediria sua mão em casamento e partiriam juntos na viagem de retorno ao castelo de seu pai.



Continua...

sexta-feira, janeiro 26, 2007

O lago dos cisnes.

Os passos do cavalo misturavam-se aos diversos sons que enchiam a floresta. Poucos eram os raios de luar que conseguiam atravessar a espessa cobertura que a copa das árvores formava. Mesmo assim o caminho estava bem iluminado. O puro sangue, branco como o leite, destacava-se em meio àquela escuridão. Estava cansado e implorava por água e descanso. O príncipe fizera-o correr por toda a noite. Estavam profundamente embrenhados dentro da floresta. Em breve seria dia e eles acampariam para descansar.
- Ohha! – disse o jovem cavaleiro. Puxando levemente as rédeas, fazendo com que a montaria parasse imediatamente. Uma suave voz. Vinda de algum lugar à frente. Preenchia a noite com uma doce canção. O príncipe desceu do cavalo em silêncio e caminhou em direção a voz. Por trás de arbustos e árvores avistou uma cena maravilhosa.
Na extremidade de um lago. Sentada sobre uma enorme rocha. Uma jovem repousava sentada. Em seu colo mantinha um cisne. Sobre as águas do lago estendia-se longa audiência formada de cisnes, gansos, patos e alguns outros tipos de aves. Havia algo de mágico no ar. Ele podia sentir. Mil reflexos brilhavam na superfície do lago. E a beleza da jovem era imensa. Os cabelos negros e compridos até a cintura. A alvura da pele. Os traços delicados do rosto. E a voz. Que voz mais maravilhosa. Jamais em seus vinte e um anos de vida o príncipe ouvira uma voz mais bela ou mesmo mais pura do que aquela. Sentiu que seu coração batia acelerado e um nervosismo tomava conta de suas mãos.


Continua...

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Espera.

Queria escrever uma canção, uma canção que falasse sobre os sentimentos de um homem que espera alguém, alguém que não vem.
Por que eu acredito que todo mundo, por menos que tenha vivido, já passou por essa experiência, que tanto pode ser frustrante, revoltante ou até mesmo prazerosa. Isto depende, é claro, do gosto pelo sado-masoquismo ou não. Mas o que verdadeiramente importa em uma espera? Algumas pessoas podem reclamar dizendo que estão desperdiçando preciosas horas do dia, dizem que aproveitariam esse tempo com outras atividades, eu particularmente acho isso besteira. O fato é que quando se espera tudo muda e tudo fica exagerado. Os segundos parecem horas e você começa a perceber tudo com muito mais detalhes, você tenta se distrair com as pessoas e as coisas ao seu redor. O paradoxo é que enquanto você observa, passam vários ônibus, dezenas de carros, centenas de pessoas e quando você olha pro relógio, percebe que o tempo praticamente não passou. Ou seja, o mundo esta descaradamente mais rápido que você. Vale lembrar que dentro da sua mente estão correndo milhares de pensamentos, alguns do tipo, por que a hora não passa ou o que pode tê-la atrasado ou ela não vem ou então eu sou um babaca ela não vem e eu vou ficar plantado aqui que nem um dois de paus.
O tempo não passa.
E você começa a perceber que as pessoas estão olhando de um jeito estranho para você. Será por que você anda de um lado para outro sem parar ou por que de minuto em minuto consulta o relógio ou até mesmo pelo fato de ficar com o olhar perdido lá no fim da rua e na esquina próxima.
O tempo não passa.
Mas você fica ali. Firme e forte. Esperando. Diz para si mesmo:
Só mais cinco minutos. Depois vou embora.
Mas sabe que isso não é verdade. Sabe que vai continuar esperando. Parece até que sente algum prazer sádico em sofrer. Engraçado, normalmente quem mais espera é aquele que mais odeia o ato de esperar por outra pessoa.
O tempo não passa.
Recordo-me agora de quando era forçado a esperar uma muito amiga minha que por incrível sacanagem do destino ou dela mesma, nunca estava pronta na hora e muito menos uma hora depois da hora. A verdade é que por mais torturante que seja, ela tinha a capacidade de deixar-nos esperando por uma hora e meia ou mais. Daí alguém pode dizer:
Se demorava tanto assim, então por que a esperavam?
Muito simples minha cara besta. Somos prisioneiros de uma algema chamada educação. Coisa essa que impede-nos de cairmos fora e deixarmos uma criatura dessas pra trás. Não! Por favor, não me chamem de insensível, por achar que uma mulher levar uma hora e meia no banho e mais meia pra se arrumar seja tempo demais. Na verdade isso não é tempo demais, na verdade isso chega a ser patológico. Depois quando dizem que essa história de que mulher demora muito pra se arrumar é coisa de machista. Vão se ferrar.
O tempo não passa.
Muitas pessoas usam a espera pra dizer aquilo que elas não tem coragem pra dizer pessoalmente. Em vez de cortar o mal pela raiz, elas preferem envenenar a arvore lentamente.
Poeticamente falando:

“Esperar é morrer aos poucos”.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Sem sorte.

Realmente sem sorte.
Saída do serviço em horário normal. Pouco dinheiro pra pagar as contas. Ônibus ruim de horário e ruim de gente. Retornar pra casa num veículo cheio de pobres é algo que não desejo nem ao meu pior inimigo. Já na saída do terminal quase fomos abalroados por um desses enormes ônibus de turismo que em janeiro invadem a ilha. Depois engarrafamento no Kobrasol. Aquele monte de gente suada e fedida após a jornada de trabalho. Já em palhoça outro ritmo lento. Abro mais ainda as janelas, pra tentar arejar o lugar. Então ouço um ruído nada agradável. Algo assim como splosh. Levanto as pernas com medo que o vômito alcance minhas pernas. Por sorte o incidente foi dois bancos atrás. O líquido não chegou até mim, mas o cheiro empestou o coletivo.
Pra encurtar a história. Cheguei em casa, cansado, suado e com fome. Enfio a mão no bolso e descubro que a chave ficou no escritório.
Ninguém merece. Nem mesmo eu.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Shopping

Shopping Center é uma coisa que não muda muito, independente da cidade em que você está.
Tudo se resume a um monte de lojas, banheiros, alguns cinemas e restaurantes sem alma. Fast food. Às vezes nem tão fast assim. Eles deveriam mudar o nome disso pra Trash food já que a maior parte disso é lixo mesmo.
É tanta gente correndo. Sério! Eles não comem. Simplesmente jogam a comida pra dentro. Basicamente é um crime contra o próprio corpo.
O almoço deveria ser um tempo para suavizar as tensões acumuladas durante a manhã de trabalho. Saborear o alimento. Com calma. Sem pressa. Com direito a uma animada conversa com os colegas de trabalho.
Mas alguém pode perguntar, se o shopping é assim um lugar tão ruim o que você fazia lá? A comida é uma droga, mas o ar condicionado! E, além disso, eu havia passado no mercado e comprado um belíssimo cacho de uvas para o meu almoço.
Então é isso, shopping mau, ar condicionado bom.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Boi de Caiçara

Essa história correu por toda a região do município de Frederico Westphalen.
Conta-se que um rico fazendeiro do município de Caiçara todos os dias pegava sua pick-up quatro por quatro e saía vistoriando os campos e o gado de sua propriedade. Essa rotina iniciava-se cedo pela manhã e terminava na hora do almoço quando ele retornava para fazer a refeição junto com a família.
Porém naquele dia as coisas não ocorreram da forma costumeira. À hora do almoço já havia passado e o fazendeiro ainda não havia chegado. Apesar da família estranhar o atraso o caso ainda não era de assustar. Com toda certeza estava na casa de algum conhecido onde ficara preso por força da hospitalidade e educação. Com o passar das horas e a falta de notícias as pessoas começaram a ficar preocupadas. Pelo fim da tarde já haviam sido formados grupos de busca. Os peões a cavalo foram dispersados para os trechos de pior acesso, a família em seus carros saíram pelas estradas que cruzavam a propriedade.
Na penumbra que divide o dia da noite quando a pick-up, que levava a esposa e filhos do estancieiro, cortava a estrada e olhos atentos buscavam em todas as direções. Quando as esperanças estavam se esgotando, pois, estava ficando escuro demais o filho viu ao longe um vulto grande e forte e logo após percebeu o veículo de seu pai. Com um grito avisou a todos que logo foram tomados de alegria por terem encontrado uma pista.
Estacionaram a pick-up e juntos foram caminhando em direção ao veículo e aproximando-se do enorme vulto. Perceberam então que tratava-se do melhor touro de exposição que a fazenda possuia. Logo porém a alegria que todos haviam sentido esvaiu-se num mal estar generalizado quando ao lado do touro avistaram o corpo inerte do fazendeiro. Caído de bruços, a cara enterrada no chão. As calças arreadas nos tornozelos e a bunda toda ensagüentada. Ao seu lado o touro pastava tranqüilamente.
Dizem as más línguas que diariamente o fazendeiro procurava o seu touro para uma leve sessão de sodomia, mas que para seu infortúnio naquele dia a fera havia se empolgado e passado dos limites. A empolgação do touro causou ferimentos tão graves que levaram o homem a inconciencia e a várias cirurgias posteriores.
Essa história correu a região espalhando-se rapidamente. O filho da vitima teve que largar a faculdade e ir ocultar-se na casa de parentes devido a perseguição que sofria em qualquer lugar que fosse. O casal tornou-se recluso não visitando e nem recebendo qualquer espécie de visita. O touro foi vendido em leilão logo depois. E esta história ficou conhecida na região de Frederico Westphalen como A lenda do boi de Caiçara.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Um dia de trabalho.

Sério. Hoje é um daqueles dias que você se pergunta, por que que eu fui sair de casa, melhor, por que que eu sai da cama. Não devia nem ter acordado. É incrível, como uma seqüência de acontecimentos ruins pode ferrar com um dia perfeito. De manhã o céu estava azul de doer os olhos. Não tinha nuvem nenhuma. A temperatura agradável. É tão perfeito que eu sou obrigado a sair sorrindo, como um perfeito idiota feliz. Mas como nada de bom dura pra sempre, na verdade, nada de bom dura, pelo menos não tanto quanto a gente gostaria que durasse. A destruição do meu dia começa no ônibus. Não que andar de ônibus seja tão ruim assim. Pra ser sincero, eu até gosto. Assim eu vejo gente, mulheres, conhecidos, sorrisos, seios, bundas, caras-de-bunda e toda sorte de pessoas, e isso me faz bem. O meu problema com o coletivo, é que ele me leva direto pro serviço. E é lá que qualquer alegria aprende a morrer.
No serviço, eu tenho o direito de me sufocar com o ar condicionado e pela janela, vejo o rio, tão belo e calmo que nem parece estar poluído. Vejo também as pessoas serem envolvidas pelo vento. Enquanto os números me cercam, todo aqui tem o direito de serem cretinos. A mim. Reservo o direito de ser covarde. Pois qualquer homem, que tenha o mínimo de sangue quente nas veias, mandaria todos para o inferno. Com seus controles, planilhas, CIs e memorandos. Vão se foder. O mundo lá fora, e eu perdido aqui dentro. Brigando com um, levando esporro de outro, fazendo coisas que não consigo e ensinando coisas que eu não sei. Rezando para que a hora passe e eu possa voltar pra casa. Onde a minha incompetência é menos visível, ou pelo menos é menos comentada. Em casa, estarei a salvo. Os cães, pelo menos, estes sim me respeitam. Demonstram afeição sincera e alegria real ao me encontrar. Talvez devesse viver mais com os cães do que com as pessoas. Pelo menos o máximo mal que um cachorro pode fazer a alguém é mordê-lo, porem um ser humano, é capaz de certas coisas que nem o “CÂO” acredita.
Minha casa, onde enfim posso me esconder do mundo e de todos os cretinos que dominam a face da Terra. Por que é incrível, quanto mais você conhece as pessoas mais você acredita que só a idiotice não tem limites. Mas na minha cama, estarei a salvo. Por que lá. Lá só cabe um idiota! E esse sou eu.