quinta-feira, julho 22, 2010

Capitães da areia

Se tem uma coisa que definitivamente não posso reclamar é a minha sorte com os livros. Sebos, pontas de estoque, presentes e faxinas sempre foram generosas comigo. E foi assim, numa faxina que eu ganhei este livro e mais alguns outros desse autor.
Para os mais novos talvez seja uma surpresa, mas Jorge Amado já foi a expressão máxima do escritor brasileiro no mundo. É isso mesmo que você ouviu. Antes do evento
Paulo Coelho
o Brasil literário se fazia conhecer pelos livros de Jorge Amado. E lá fora o Brasil era a Bahia com toda sua malandragem, macumba, fé, sincretismo, coronelismo e sensualidade.
O livro trata da saga pela sobrevivência nas ruas de Salvador. Onde um grupo de menores de idade se organizam numa quadrilha que se esconde num barracão abandonado à beira mar e se auto-denominam "Capitães da areia". Dedicados a pequenos golpes e furtos essas crianças lutam diariamente para conquistar as refeições e evitar serem recolhidos ao reformatório baiano, lugar de horror e torturas. Liderados por Pedro Bala, que como a maioria deles também é orfão, as crianças só encontram auxílio no Padre José Pedro, homem simples e de bom coração e na Mãe de Santo Dona Aninha, que estende seu carinho e hospitalidade a todos os Capitães da areia.
Com personagens ricos como Pirulito, que sonha ser padre, Volta Seca que deseja lutar ao lado de seu padrinho Lampião, Professor que é alfabetizado e pintor, Sem Pernas um aleijado que odeia a tudo e a todos, Gato um jovem estiloso e trambiqueiro, Boa-Vida um malandro que deseja viver em Salvador dedicando-se a boêmia e mantendo a maior distância possível de qualquer espécie de trabalho. Dispondo dessa riqueza de personagens Jorge Amado nos leva para caminhar pelas ladeiras da capital, o porto, suas igrejas e terreiros. Mostrando-nos o melhor e o pior de Salvador. Tudo pelo ponto de vista de crianças que vivem como homens e nos poucos momentos de folga sonham em aproveitar as coisas boas e simples da vida de crianças. É gostoso ler como J.A. humaniza personagens que não hesitam em passar a navalha no inimigo e por outro lado se maravilham com um velho carrossel caindo aos pedaços.
Além do amor sensual também há o amor puro, arrebatado, romântico e adolescente. E o amor tem nome. Seu nome é Dora. Uma orfã que se une aos Capitães da areia e que entre eles encontra vários papéis para desempenhar. Mãe, irmã, amada e também a persona de musa inspiradora, desejada, porém fora de alcance.
Não bastasse tudo o que foi citado acima não dá pra deixar de comentar o lado engajado de J.A. que transparece nas origens de Pedro Bala. Seu pai teria sido um estivador grevista morto pela polícia durante uma manifestação. Os assuntos greve, comunismo e desigualdade social surgem em várias partes do livro. Ora na voz do padre, ora na voz de estivador, ou nas palavras duras do bispo.
O autor sempre teve muita propaganda, principalmente porque vários livros seus tornaram-se novelas e filmes de sucesso, Tieta, Gabriela, O Bem Amado, Dona flor e seus dois maridos e outros mais. Agora posso dizer que ele merece toda essa propaganda e todos os créditos, pois sua escrita é deliciosa e maestral. Um autor que merece/precisa ser lido tanto no Brasil quanto no mundo.

Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis! 

6 comentários:

  1. Ignorava "Os Capitães da Areia"?. É pouco conhecido aí no Brasil? Pela descrição parece. Acredito, tal como cá em Portugal que o povo não seja dado muito a leituras, no entanto, os portugueses conhecem muito bem o livro e Jorge Amado. O Paulo Coelho aqui é mais vendido. Li apenas "O Alquimista".

    Abraços e boas leituras.

    ResponderExcluir
  2. Carlos não creio que CDA seja tão conhecido como deveria. Agora o pessoal só quer saber Paulo Coelho e Vampiros. E se você leu O Alquimista não perde muito deixando de ler outros livros dele.
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  3. Concordo, não sei por que falam tanto de Paulo Coelho ao redor do mundo, acho que tem tantos outros autores bons e diria até que melhores. Eu li "Verônica decide morrer" e achei beem chato, enfim... Nada contra os Vampiros, mas cultura em massa pra adolescente dá um bom dinheiro para os autores. hahaha O único livro do Paulo Coelho que eu realmente gosto é Maktub, acho excelente. Enfim, ainda não li Jorge Amado, estou lendo "Caim" de José Saramago no momento e estou adorando! Quando acabar vou procurar algum de Jorge Amado para ler. Obrigada pela dica! Amo livros também. Beijoooos!

    ResponderExcluir
  4. Raíssa cultura de massa adolescente dá dinheiro. O único lado bom que vejo de tudo isso é que o adolescente começa lendo Crepusculo o PC e depois de um tempo enjoa e vai em busca de coisas melhores ao paladar.
    O bom do Jorge Amado é que tem muita coisa legal. Eu aconselho a buscar os livros mais antigos dele.
    Um abraço moça.

    ResponderExcluir
  5. Não li ainda um livro do Jorge Amado. Espero começar com "Capitães da areia", pois achei muito interessante o que você expôs aqui. Gostei de saber mais dele por meio do texto que você lincou e conclui que ele teve uma vida intensa. Foi reconhecido pelos seus trabalhos e, inclusive, homenageado quando estava vivo.

    Apesar de ainda não ler uma obra dele, li e tenho dois livros de sua esposa Zélia Gattai: "Anarquistas, graças a Deus" e "Chão de meninos". Ela narra como foi a infância e a juventude dela e o Jorge Amado ainda não fazia parte da vida dela. Gostei muito da maneira como ela escreveu. Ainda desejo ler outros livros da Zélia. Vai ser interessante comparar o estilo de Jorge Amado e de Zélia Gattai.

    Um abraço moço!

    ResponderExcluir
  6. Lu creio que irás gostar de J.A. espero que em breve encontre tempo para ele em sua agenda de leitura.
    Um abraço moça.

    ResponderExcluir

Se você se deu ao trabalho de escrever então nós iremos responder.