segunda-feira, março 01, 2010

Os guarda-vidas

Quando o verão chega, eles estão nas praias. Não em todas. É possível encontrá-los onde o mar possui ondas perigosas ou águas agitadas. Dou graças a Deus pela existência do trabalho dos guarda-vidas. Considero de grande responsabilidade e de coragem por colocar em risco a própria vida. Já imaginou se eles não existissem? Se eu fizesse o papel deles sem ser uma guarda-vidas, não teria credibilidade. Alguns poderiam pensar assim depois de eu orientar a não entrar na água em determinado ponto: “Quem ela pensa que é para dizer isso pra mim?”.

Antigamente eram conhecidos como salva-vidas. Hoje são denominados de guarda-vidas. Bem, pelo menos aqui em Santa Catarina é assim. Penso que o nome atual é o mais adequado. Melhor ficar de olho na vida dos outros em vez de sair correndo a fim de salvar alguém do afogamento.

Em um fim de semana de fevereiro estive observando as atividades dos guarda-vidas na praia dos Ingleses em Florianópolis. Essa praia tem ondas fortes. Apesar de saber nadar, eu só fiquei na beira do mar. No entanto, muitos banhistas iam ao fundo do mar. E os guarda-vidas não ficaram de braços cruzados. Em vários momentos, escutei o apito. Eram eles chamando os banhistas para saírem da área perigosa. Comparei o desempenho dos guarda-vidas com os policiais que atuam nas ruas. Os guardas de trânsito também orientam as pessoas nas ruas ou chamam a atenção. “Aqui não pode estacionar”. “Vire à direita”.

Havia bandeiras vermelhas fincadas na areia em boa parte da praia. Elas indicam que o mar está perigoso. Em um trecho tinha três bandeiras vermelhas distantes uma da outra e unidas com fita plástica de cores amarela e preta. Isso significava que não podia entrar no mar de jeito nenhum.

Num determinado momento, eu e meus amigos vimos um ato de salvamento. Dois guarda-vidas retiraram do mar um homem que teve um mal-estar. Utilizaram um tipo de corda elástica para puxá-lo de volta à areia. Um puxava a corda e o outro segurava o homem. Deu tudo certo. A cunhada de minha amiga, que conheci naquele dia, contou que dias antes uma adolescente não teve a mesma sorte.

Próximo das oito horas da noite e o dia ainda claro, resolvemos caminhar na praia. Mal começamos a andar quando nos deparamos com inúmeras pessoas em volta de algo. Os guarda-vidas tentavam reanimar alguém. Era um homem? Uma mulher? Uma criança? O máximo que conseguimos saber era de que se tratava de uma moça. Alguns diziam que era uma adolescente. Outros, uma jovem. Muita gente que observava o ato deixou as lágrimas rolarem no rosto, inclusive eu. A emoção e a esperança tomaram conta de mim. “Meu Deus, ajuda eles. Por favor, não quero ver uma morte na minha frente”. Dois guarda-vidas solicitaram às pessoas a se afastarem da cena. Logo vimos um helicóptero se aproximando para pousar na areia. A equipe do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegou para ajudar no trabalho.

Seguiram mais alguns momentos tensos. Não conseguíamos ver direito. De repente, os profissionais pareceram ficar mais aliviados e estavam colocando a moça na maca. Os guarda-vidas fizeram uma roda. As pessoas que viram o acontecimento começaram a bater palmas. O helicóptero levantou vôo. De pé do lado de fora do helicóptero e uma mão segurando num suporte, um jovem profissional do SAMU apontou o dedo em direção aos guarda-vidas. Entendemos que o mérito do salvamento era para os guarda-vidas. Eles continuaram em roda, ajoelhados no chão e um abraçava o outro. Agradeceram uns aos outros e a Deus. Aplausos demorados. Muita gente foi cumprimentá-los.

Enquanto a moça era socorrida, reparamos que não havia um parente ou um amigo dela junto. Pode ser que os seus acompanhantes foram para casa e ela quis ficar mais um pouco na praia. Provavelmente disse: “Vou dar um mergulho”. Como sou curiosa, procurei nos jornais por alguns dias a fim de encontrar a notícia sobre a ocorrência. Não achei uma notinha sequer. Não pude saber quem era ela. Conclui que é melhor pensar que ela está bem. Mergulhou em direção à quase morte e os guarda-vidas mergulharam para trazê-la de volta. Viva os guarda-vidas!

Lu Vieira

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15 comentários:

  1. É, guardar vidas não deve ser mesmo uma tarefa fácil, mas guardá-las de uma maneira geral é um papel de todos nós. É só ver como ficamos mexidos com esse tipo de coisa, queremos ajudar, nos envolver(nem todos), mas se nos sentimos assim é porque o somos em potêncial. É,imagino que não deva mesmo ser fácil ver alguém morrendo na nossa frente,nunca passei por isso, mas não deve ser nada fácil. Que bom que nesse caso deu tudo certo.

    Abraço

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  2. Grande Lu Vieira...

    Pois bem, como já viu no meu blog, tive a oportunidade também de ir à praia neste verão... e sabe que diversas vezes fiquei prestando a atenção no trabalho destes heróis... mais de uma vez também, eu vi eles chamando o pessoal, via té mesmo eles entrarem no mar para ir até determinado local e chamr alguins banhistas teimosos... pensei ateh mesmo em entrevistar alguns deles, saber mais sobre a atuação, pois queria publicar algo no meu blog sobre um trabalho tao nobre, mas como fui pra praia para relaxar, não levei gravador, bloquinho, nem mesmo canetas... mas realmente eh um trabalho fantastico...

    que bom que a menina se salvou...

    mais um ótimo texto Lu... parabéns...

    Abraço!

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  3. De fato, Marina, guardar vidas é um papel de todos nós. Se eu não olhasse as atividades dos guarda-vidas durante todo o dia, talvez eu teria uma observação diferente. Foi bom pensar em valorizar a nossa vida e a do próximo. Ainda refleti sobre a morte. Não deixo de pensar nisso, pois todos vão passar por ela. Abraço!

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  4. Mr. Gomelli, não vai faltar oportunidade para você fazer entrevista. Como você observou e refletiu sobre o trabalho dos guarda-vidas, quando for à praia de novo pode pintar uma nova visão. Vai ser interessante. Obrigada pelos seus elogios. Abraço!

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  5. Lu; já li o texto e gostei bastante, mas achava o nome antigo mais romântico. Salva-vidas, isso sim era nome de emprego.
    Um abraço moça.

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  6. Amigo Alves, independentemente de ser ou não mais romântico, ainda hoje costumo chamá-los de salva-vidas. Um abraço moço.

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  7. Pedro Kury15/4/10 14:34

    gostei do texto lu vieira, realmente não é moleza ser um guarda vidas dos ingleses, pois ha muita gente no decorrer da praia, muita gente teimosa e a praia com uma aparencia enganosa.. a praia dos ingleses tem um fundo de areia muito irregular ou seja muitos buracos e correntezas em direção ao fundo. Mais agente faz oque pode,
    Guarda Vidas Civil. Pedro Kury

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  8. Pedro Kury, obrigada pela sua visita e comentário. É muito bom ver aqui as palavras ditas pelo próprio guarda-vidas. Agradeço pelo seu trabalho, pois possui grande responsabilidade e muita atenção e coragem. Um abraço!

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  9. estou entrando nessa vida de guarda-vidas,espero que eu seja um bom profissional...
    abraços galera.

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  10. Sérgio, estamos torcendo para você ser um bom profissional. Agradecemos a sua visita no nosso blogue e esperamos que você volte mais vezes aqui. Um abraço!

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  11. eu sou uma salva vidas! adoro esse nome, as pessoas principalmente os homens vivem gritando que vão se afogar eu acho o maximo

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  12. Bom pelo menos você está fazendo algo que gosta. Então divirta-se e volte sempre.

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  13. meu nome é felippe kaynã matias, sou guarda vidas civil, estava presente nessa ocorrencia da menina na praia dos ingleses,pois temporada passada eu era guarda-vidas de lá, me lembro como se fosse hoje do acontecimento me marcou muito, e muito obrigada pela sua consideração por nós que olhamos por você, muito legal o seu texto!
    atenciosamente GVC Felippe Kaynã Matias

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  14. Felippe, agradeço pela sua manifestação aqui. Obrigada também pelo seu cuidado e atenção por nós nas praias. É muito bom saber que as atividades dos guarda-vidas marcam muito a própria vida do profissional. Eu percebi isso no dia da ocorrência contada neste texto. Fico contente quando mais pessoas aprendem uma lição de vida. Um abraço para você e bom trabalho!

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