segunda-feira, maio 31, 2010

Palavras em vão

Seu coração martelou uma vez, duro, espremendo duas lágrimas quentes de seus olhos...
Saiu da frente do computador e pôs-se a pensar. Onde iria chegar escrevendo frases pomposas e sem sentido como essas. Onde estava a pureza de sentimentos. A fúria destrutiva dos épicos ou o passo lento dos dias contemporâneos. Quando olhava a tela do computador e lembrava de todos os escritores que admirava, sentia vergonha de tudo que escrevia. Hemingway, Bukowski e Maupassant ririam na sua cara. Chamariam-no de medíocre e fracassado. Sabino, Márcio de Souza e Quintana por educação diriam que era melhor estudar um pouco mais. Waltari com seus hábitos frios de nativo do norte ofereceria sua indiferença.
Mesmo assim continuava escrevendo. Por que? Que angústia é essa que faz com que preencha páginas e páginas de palavras que talvez ninguém vá ler. Que prazer doentio tem em perguntar-se sobre a qualidade daquilo que criava. Seria a vontade de escrever uma forma de se igualar a deus? Uma busca pela comunicação que não consegue estabelecer com as pessoas ao seu redor? Ou simplesmente um desvario em busca da fama? De qualquer forma não conseguia chegar a uma resposta satisfatória e seguia escrevendo diariamente. Talvez a prática constante um dia o livra-se da pusilanimidade. Por mais que os amigos dissessem que havia alguma qualidade naquilo que produzia, uma voz interior fazia questão de fixar-lhe os pés no chão e mostrar que nada daquilo tinha algum brilho ou valor.
Apesar do conhecimento de que sua luta é inútil, mesmo assim segue em frente. A escrita é maior que sua vontade, exige voz, exige vez. Ele cavalo de uma entidade que não pode ser dominada segue digitando coisas que não acha dignas. Retorna à máquina, abre novo documento e digita:
Era uma vez...

Texto escrito a partir do blogue Once upon time e seu desafio:

Frase: "Seu coração martelou uma vez, duro, espremendo duas lágrimas quentes de seus olhos..."
Escreva uma história, um conto ou até mesmo uma fábula (nada de textos argumentativos) que contém a frase acima.


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8 comentários:

  1. Thá fiquei feliz por ter agradado.
    Um abraço moça.

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  2. Mais um brilhante conto, parabéns! Gostei de ler a biografia dos escritores que você citou e lincou.

    Fiquei pensando o quanto gosto de ler e escrever. Além de ser um prazer, também é uma terapia e uma forma de refletir, de organizar meus pensamentos e, principalmente, botar a minha cabeça para funcionar com imaginação e criatividade.

    Quanto ao julgamento que outros fazem sobre os textos que cada um escreve, é bom que as críticas sejam sempre construtivas, no sentindo de sempre buscar a melhoria. Mas antes dos outros, é importante que a própria pessoa que escreve realmente goste daquilo que criou.

    Enfim, como está no conto, vamos seguir em frente escrevendo. Um abraço, moço!

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  3. sempre é uma boa saída usar o tema como o foco do texto qdo se está com falta de criatividade. alguns conseguem construir ótimos textos usando essa tática, oq me parece ser o seu caso.

    só acho q um pouco + de cuidado na estética do texto melhoraria na visibilidade dele. são pequenos detalhes q fazem seu texto, além de ter conteúdo, tb mostrar-se bonito à primeira vista. compare visualmente, por ex., este post com o "na natureza selvagem" da lu, e vai ver oq estou falando.

    1 abraço e espero q continue arrasando no once...

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  4. É Jefferson, pelo visto já notou que quando eu não tenho a mínima idéia sobre o que fazer com o tema eu jogo o problema pra cima de um escritor fictício.
    Jefferson vou cuidar um pouquinho mais da apresentação. Obrigado pela dica.
    Um abraço.

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  5. Lu como já conversamos escrever é uma ótima terapia mesmo. Fiquei feliz em saber que usastes os linques. Cheguei a ter dúvida sobre usá-los ou não.
    Um abraço moça.

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  6. Um texto reflexivo. Quantas vezes achamos nós que somos bons o bastante? E quantas vezes não olhamos no fundo de nossos escritos? Eu continuo a crer que tido é meu é uma replica extremamente mal feita do meu desejo de escrever melhor! obrigada pelo prazer da leitura!

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  7. Bell às vezes penso assim, mas de vez em quando penso que cabe ao leitor julgar o que é bom ou não. Afinal gosto é sempre uma coisa pessoal.
    Um abraço e até a próxima.

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