Enfim o grande dia chegara. Caprichou no banho, no hidratante, depilação, unhas, cutículas, cílios, sobrancelhas, maquiagem, pulseiras, brincos e tudo o mais que ela julgava ter direito naquele dia. Sentia uma ansiedade gostosa. Era como se retornasse aos tempos de moça e fosse sair para o seu primeiro encontro.
Então, quando já era a personificação da beleza absoluta, declarou estar pronta. O resultado de tanto capricho e esmero surpreendeu até mesmo o próprio marido que após tanto tempo de convivência já não percebia mais a beleza que possuía em sua casa.
Arionor tirou o velho opala da garagem, depois da família, sua única paixão. Estacionou o carro na frente de casa e ficou esperando a mulher. Não gostava daquela situação. Não achava direito. Mulher casada, não deve ficar saindo por aí sem a companhia do marido. Lembrou-se que havia prometido deixá-la ir e agora era tarde demais pra voltar atrás. Lembrou da irmã que também estaria lá. Com certeza poderia confiar na irmã. Ela era sangue do seu sangue e não iria traí-lo.
Mariana embarcou no carro, sorriso de orelha a orelha. O marido limitou-se a dirigir até o local da festa. Evitava falar. Tinha medo de ofender a esposa com sua desconfiança.
Chegaram ao local do churrasco, localizava-se em uma rua de asfalto, um terreno arborizado, cercado na entrada com um muro baixo de tijolos, lá dentro, vários quiosques em forma circular, cada um desses tinha uma churrasqueira, freezer, mesas e cadeiras.
Mariana abriu a porta do carro, antes de descer, fez questão de beijar o marido.
Ele, em um esforço pra lá de humano, conseguiu dizer-lhe ainda:
- Divirta-se querida. As dez, eu passo pra te buscar.
E com o mesmo esforço anterior, soltou um sorriso, mais amarelo, impossível.
Mariana se despediu e seguiu pra festa acompanhada da cunhada que viera recebê-la quando avistou o carro do irmão.
O opala esperava no sinal vermelho, o motor oscilava tranqüila e constantemente, os pensamentos de Arionor corriam alucinados dentro daquela cabeça atormentada.
Maldito sinal.
Imagens. Fotografias. Sonhos em que era traído de todos os modos possíveis e imagináveis.
Afundou o pé no acelerador. O motor berrou. O sinal abriu. Soltou a embreagem. Cantando pneu e soltando fumaça o opala voou pela noite. Dirigiu rápido. Em alta velocidade tentava deixar pra trás os medos que o perseguiam.
Angustiado parou em um bar. Estacionou de qualquer jeito, foi ao balcão, pediu uma pinga pra firmar o pulso.
Ele podia vê-la agora, dançando, rindo, bebendo e fumando. Aqueles lindos cabelos longos balançando no salão, um homem com a mão em sua cintura e os dois rindo dele.
O tempo demorava a passar, mas graças a Deus, a bebida nunca demorava a chegar. Foi assim o tempo todo, sentado, quieto, bebendo, se torturando e se remoendo de culpa por ter sido um frouxo e tê-la deixado ir aquela maldita festa. Devia ter mostrado quem mandava, que era ele que usava calças naquela casa, mas esta seria a última vez que ela saía sozinha, dali pra frente, só sai com o marido. Entregue a esses pensamentos e à bebida, o tempo passou e chegou a hora de buscar a esposa.
Continua...
Amanhã teremos o último capítulo.