sábado, setembro 10, 2011

Medidas extremas

08/09/2010
- Adalto! Porra Adalto o lixo continua no mesmo lugar de ontem. Eu não falei que era pra tirar? Falei, mas você me ouve? Não você nunca me ouve. Fala alguma coisa. Adalto eu tô cansada. Um dia eu vou embora e não volto mais.
Sentado em sua poltrona ele levanta a cabeça, começa a abrir a boca, mas baixa os olhos, fecha a boca e fica quieto ouvindo.
...
06/10/2010
- Cara eu tô cansada. Porra é sempre a mesma coisa eu trabalho que nem uma filha da puta no serviço e quando chego em casa tenho que fazer todo o serviço. Você não quer uma esposa quer uma empregada. Mas eu não aguento mais. Vou pegar minha filha e vou embora. Espero que você arrume uma mulher bem porca e que te encha de galhos. ai sim você vai gostar, vai dar valor.
Parou de esfregar a louça. Olhou pra ela por um instante. Abriu a torneira e enxaguou o que faltava.
...
03/11/2010
- Adalto você não conversa mais comigo. Eu vivo aqui ao seu lado e você me ignora. Não tem mais diálogo, nem abraço. Quanto tempo faz que você não me abraça. Eu vou arrumar alguém que me dê o que eu preciso. Eu preciso de carinho, compreensão. Fala comigo. Se você não me ama eu vou atrás de alguém que me ame.
No escuro Adalto se encolheu no seu lado da cama e agarrou-se com a coberta.
...
01/12/2010
- Chega! Eu vou embora. Eu chego tarde, cansada e não tem nada pra eu comer. Não eu não quero comer macarrão com atum. Você sabe que eu não gosto. Também não quero que você frite um ovo pra mim. Você não entende. Porra! Eu só queria comer um pão seco. Isso é muito? É muito? Você podia ter um pouco de consideração por mim. Será que dá pra me valorizar? Não mereço isso mesmo. Vou embora. Você pode ficar com casa, carro, tudo. Eu não ligo pra coisas materiais. Mas a pequena vai comigo.
Adalto levantou-se com ímpeto. Seus olhos eram frios e tranquilos. Olhou pra esposa, olhou a menina que dormia tranquilamente no quarto ao lado. Passou a mão na mochila e nas chaves do carro. Já na porta olhou pra trás. Encheu o peito, levantou a cabeça, abriu a boca e ia fazer um gesto, mas desistiu. Foi embora fechando a porta ao sair.

Conto escrito para o blogue "Duelo de escritores"

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4 comentários:

  1. E Adalto está finalmente aliviado por ter se livrado dessa filha da puta. ;)

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  2. Raíssa espero que agora ambos consigam ser felizes.
    Um abraço moça.

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  3. Opa... esse eu já li lá no "Duelo de Escritores"... hehehe...

    comentei lá que achei legal o jeito como tu abordou o tema "terrorismo", fugindo do óbvio neh... muito bom...

    Abraço!

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  4. Gomelli pode ser que não se encaixe perfeitamente na definição de terrorismo, mas sempre considerei esse tipo de coisa tão cruel quanto.
    um abraço.

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