
Um dia de sol e céu azul à beira-mar. Brisa fresca da baía aplaca o calor e torna tudo mais gostoso. Na orla uma casa aqui outra ali. No meio da praia algumas pedras modificam a paisagem. A areia é branca e as pequenas ondas quebram com suavidade. Perpetuando aquele som monótono, cíclico, perpétuo e calmante.
De baixo da varanda aprecio a paisagem. Ao longe pequenas canoas de pesca deslizam suavemente. Na areia algumas pessoas dedicam-se aos seus afazeres diários. Todos trabalham. Não há pessoas brincando.
Sinto um tremor sob os meus pés. E vejo uma nuvem de poeira erguer-se detrás de uma pedra e logo em seguida ser levada pelo vento. As pessoas largam seus afazeres e correm em direção a origem da nuvem. Vindos d’água e areia aproximavam-se daquele lugar que minha intuição gritava não ser um local seguro.
Como em uma erupção vulcânica o chão explodiu lançando ao ar pedras, terra e pessoas. Claramente vi dois homens cruzando o céu vindo para o meu lado da praia. As pernas e os braços estavam moles e se agitavam no ar. O choque com a água foi violento. Por um instante fiquei ali, em pé, parado e atônito. Um homem que estava dentro da água tirou-me do meu estado de torpor quando começou a correr para resgatar as pessoas que haviam caído do céu.
Corri em direção ao mar. Chapinhei na água. Por fim pulei e nadando da melhor forma que pude saí em busca dos desaparecidos. Com os olhos fechados atirava meus braços em todas as direções buscando agarrar um membro qualquer. Quando o fôlego já estava começando a faltar e eu ia desistir peguei um canela. Pra minha surpresa ela ainda se mexia. Ou seja, havia um sobrevivente. Infelizmente não era bem essa a verdade. De fato eu acabara de agarrar a canela do outro cara que ajudava no salvamento.
Desistimos. Saímos do mar e fomos ligar pros bombeiros. Passou-se um tempo e logo os corpos surgiram. Trazidos pelas ondas oscilavam na beira da praia. Observei dois homens brancos, levemente queimados da explosão. Os corpos apresentavam manchas brancas, circulares de aproximadamente um a dois centímetros de diâmetro. Pude ver que aqui e ali apareciam cracas como aquelas que se desenvolvem em pedras e cascos de navios. Por último fiquei mais instigado ainda quando notei que em alguns pontos dos corpos cogumelos em forma de orelha tinham crescido. Os cadáveres eram estranhos e interessantes ao mesmo tempo. Confesso que fiquei fascinado com a aparência deles. Fiquei ali, observando-os por um longo, longo tempo.
O sonho acabou quando estava embarcando num ônibus pra ir embora.