segunda-feira, abril 12, 2010

Estranhos prazeres

A noção de tempo e espaço havia se diluído. O passado não existia mais e o futuro condensava-se em um único ponto. O agora. Naquele minúsculo intervalo de tempo todo o espaço havia desaparecido de sua percepção. Os mais místicos diriam que encontrava-se em transe. Isolado da realidade, olhos fixos, dedos correndo sobre a superfície fria e indiferente. O prazer encontrava-se em suas mãos. Tudo o que devia fazer era apertar, aumentar a pressão até que ela não resistisse mais e ele pudesse ouvir o estalo final. Para ela não haveria esperança ou qualquer chance de resistência.

Talvez por isso alguns considerassem atitudes como as suas insanas, psicóticas até. Mas ele tentava não ligar para os juízos alheios. Quando muito conseguia pensar em si mesmo como uma vítima. Sim, era isso mesmo. Uma vítima sendo seguidamente tentada e seduzida. Sempre arrastado pelo desejo, não importando a força que empenhasse nas suas tentativas de resistência, no fim era sempre derrotado e acabava se entregando àquela destruição sádica e desprovida de sentido. Apesar de todo o prazer que sentia, logo depois sobrevinha o remorso e a vergonha. Tinha medo de que o pegassem. De ser descoberto e do que poderia acontecer-lhe caso sua pequena “excentricidade” fosse revelada. Até aquele momento tinha sido bem sucedido em ocultar-se. Sempre conseguindo uma forma discreta e segura de se livrar das suas vítimas após estar saciado. De modo que pretendia continuar agindo ainda por muito tempo.

Não tinha, ao certo, conhecimento sobre o que desencadeava a sua perdição. Seriam as formas arredondadas? Seria a delicadeza? Ou seria apenas a vontade de sentir-se todo-poderoso e prevalecer sobre o destino alheio, uma forma de compensação pela mediocridade de sua existência.

Seus dias esmaecidos e insossos caracterizavam-se pela inferioridade de suas atitudes e pela covardia diante dos conflitos no trabalho. No casamento as coisas não eram muito diferentes. Espezinhado pela esposa, dominado pelos filhos, acoado pela sogra e perseguido pelo cachorro, talvez aquilo fosse seu último grito de liberdade.

Em êxtase começou a apertar com as duas mãos e a torcer também. Queria tudo e queria agora. Logo ouviu os estalos e uma onda de prazer percorreu todo o seu corpo. Em sua mente apenas o gozo e o pensamento de não posso parar com isso agora.

Enquanto o som dos estalos domina a casa um vulto de mulher surge silenciosamente por trás dele e diz:

- Porra Henrique! A casa toda por arrumar e você aí estourando plástico bolha!


Texto escrito a partir do blogue Once upon time e seu desafio:

Frase : Não posso parar com isso agora

Escreva uma história, um conto ou até mesmo uma fábula (nada de textos argumentativos) que contém a frase acima.

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8 comentários:

  1. Genial este blog! Cheguei aqui através do Leitura mais que obrigatória e voltarei sempre

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  2. Excelente conto! Na medida em que eu lia, a ideia que eu tinha da situação do personagem era outra. Parecia ter raiva de alguém e o estava machucando. Eu me diverti no final ao constatar que o Henrique estava estourando o plástico bolha. Não posso deixar te dizer que eu me identifiquei com ele, pois também adoro estourar. Se tiver um perto de mim, pego e começo a ficar apertando cada bolha. É um vício, pois não consigo parar de fazer isso. Gosto disso porque me dá uma boa relaxada. De fato, um estranho prazer, rsrs. Parabéns, pois o final me surpreendeu. Um abraço moço!

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  3. Ana fico feliz que tenhas gostado. Me alegraria muito ver-te por aqui outras vezes.
    Um abraço.

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  4. Lu; segundo informações de fontes fidedignas a humanidade se divide em pessoas que não resistem ao plástico bolha e pessoas que são indiferentes ao plástico bolha. Eu me encontro no primeiro grupo.
    Um abraço moça.

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  5. AAAAH adorei =B
    aiasuhiasuhasihasiashasui podia ter sido primeiro lugar *-*

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  6. Obrigado Leticía. Fico feliz que tenhas gostado. Um abraço e volte sempre.

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  7. ó o chato aqui dnv. hello and enjoy it!

    vamulá q o processo é bruto. bem, na 1ª linha do 2º parágrafo tem uma vírgula sobrando depois de 'suas'. senta, analisa & pensa q vc vai ver q eu to ca razão. ah, a reforma ortográfica ñ retirou os acentos de minúsculo e místico nem o hífen de todo-poderoso, então pode continuar na ortografia original q ngm vai reclamar.

    tb mataria o '-se' do 'prevalecer-se sobre o destino alheio', ficou redundante. e as aspas servem pra dar um outro sentido pra palavra, mas no texto em questão a palavra excentricidade quer dizer extamente isso, percebeu? um ex. q eu sempre digo aqui é: 'eu gosto de "galinhada" nas noites de sexta'. geralmente entendem oq eu quero dizer, bem, geralmente os homens me entendem.

    outra cosita, vc cometeu um pecado q eu tb vivo cometendo, abusou das preposições e dos pronomes. vish maínha. tenta contar qtas aparecem no seu texto. mais da metade pode ser retirada dboa. e tb vi o uso do gerúndio qdo ele ñ era necessário: 'sendo' e 'precisando' podem ser substituídos sem modificar o sentido. ñ q seja errado usar gerúndio, mas nesta época de caça às bruxas do gerundismo, vc tem q optar por ser politicamente correto ou aceitar a fogueira das críticas calado. tu quem sabes.

    mas isso são apenas detalhes, detalhes ao léu. gostei do texto pq vc soube criar expectativa. isso é bom, os textos policiais e de suspense usam esta técnica. eu mesmo ia imaginando um serial killer estilo dexter até a última linha, mesmo com aquela vozinha atrás da orelha me dizendo q tinha coisa aí. legalz, gostei, keep writting my friend.

    abraço

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  8. A vírgula eu acatei, mas quando eu leio esse texto sempre tem uma pausinha ali. Reforma ortográfica passou longe por aqui. Aquilo foi desatenção ou erro mesmo.
    Retirada do "se acatada.
    As aspas eu deixei. A intenção é deixar a coisa meio confusa mesmo.
    O exagero de pronomes é algo que vou vigiar daqui pra frente.
    Jefferson como sempre obrigado pela força e pelo incentivo. Vamos ver se no próximo conto as coisas melhoram.

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