É o título do livro autobiográfico de Valéria Piassa Polizzi. Ela conta como o vírus da AIDS entrou na sua vida, o viver sem falar que o possui e o viver depois que revelou para todas as pessoas do seu convívio que tem a AIDS. Ela descobriu a doença aos 18 anos de idade antes de uma viagem para os Estados Unidos, pois se queixava de uma dor no estômago. Na época de sua descoberta, a AIDS era dita como uma doença que atingia apenas os gays e havia poucas mulheres contaminadas. Os próprios médicos ficaram surpresos com Valéria ser portadora do HIV. Não é preciso dizer aqui a reação da jovem. Desconfiou, claro. Alguma coisa estava errada nos resultados dos exames. Quando se confirmaram que tem mesmo o HIV, ela não conseguia mais fazer planos em longo prazo para a sua vida. Escutava e via o tempo todo as propagandas com estes dizeres: “AIDS mata”. Ouvia o “tique-taque” do relógio. Não conseguia dizer que é soropositiva. Os próprios médicos a aconselharam a não contar. O preconceito era muito grande. Penso que ainda é. Somente os seus pais e seus tios mais próximos sabiam da história. Seus pais não conseguiam conversar sobre o assunto com ela. A única pessoa com quem Valéria conversava se sentindo como uma pessoa com AIDS era a psicóloga Sylvia. No seu livro diz: “Mais difícil do que ter o vírus da AIDS era ter que fingir que não tinha”.
Eu me lembro das propagandas “AIDS mata”. Eram de assustar mesmo. Quando Valéria descobriu ser soropositiva, eu estava com 15 anos de idade. Foram ditas muitas coisas absurdas na época. “Não beijem na boca de quem tem AIDS”. “Não encostem no sangue”. “Não sentem no vaso sanitário”. Na escola, eu e meus colegas tínhamos medo. Valéria conta de uma palestra nada esclarecedora que assistiu no seu colégio. Como falavam que a AIDS só atingia as pessoas promíscuas, os usuários de drogas e os gays, davam a entender que o restante das pessoas estava longe de se contaminar com o vírus. A jovem já sabia ser portadora do HIV, mas não conseguiu criar coragem para contar a sua história naquela palestra. Era virgem e nunca usou drogas. Como se contaminou? Na relação sexual com o seu primeiro namorado, quando tinha 16 anos de idade. E sem usar a camisinha. Ela conheceu o rapaz durante uma viagem de navio para a Argentina no Natal de 1986 com o seu pai e sua irmã mais nova. Já estavam namorando havia seis meses quando resolveram transar pela primeira vez.
Viajou duas vezes aos Estados Unidos já sabendo ser uma moça com o HIV. A primeira viagem foi em 1989 e ficou hospedada na casa de seus tios. E a segunda, em 1993, quando estudou inglês em uma universidade de San Diego e viveu em alojamento para estudantes. Nesse país percebeu que não se falavam “AIDS mata”. Lá se diziam sobre a prevenção e como quem tem o vírus deve se cuidar. Antes de ir aos Estados Unidos pela segunda vez, chegou a fazer uma faculdade no Brasil. Abandonou, porque concluiu que não daria tempo de viver naquilo que iria estudar. Como no Brasil falavam que quem possui o HIV conseguia viver por 10 anos, Valéria fez as contas e viu que o décimo ano de sua vida com AIDS seria exatamente o ano que terminaria a faculdade. Viajar e estudar inglês ao mesmo tempo era o que queria fazer. Valéria não viveu reclusa. Pelo contrário, desejou e conheceu pessoas de diferentes países e culturas.
“Depois daquela viagem” foi escrito em linguagem simples, na forma de bate-papo. Parece se destinar ao público jovem. No entanto, a leitura é interessante para todo tipo de público, especialmente aos pais, médicos, educadores e pessoas que conhecem alguém ser portador do HIV. Para mim, a leitura foi bastante envolvente e me deu muitas reflexões como, por exemplo, não conhecer nenhum amigo com vírus da AIDS. Graças a Deus, nenhum dos meus amigos o tem. Mas... E se possui? Conte-me. Não vou deixar de ser sua amiga só por causa de um vírus.
Além de relatar a sua história e dos alertas dados sobre os cuidados para não contrair o HIV, Valéria também trata da violência que sofreu do seu primeiro namorado. E aconselha não ter vergonha para denunciar tal ato. Faz um agradecimento aos doadores de sangue que ela precisou tanto nos momentos mais difíceis.
Gosto de registrar como um livro parou em minhas mãos. O exemplar de “Depois daquela viagem” que está comigo pertence ao meu amigo Luís Antônio, ex-colega de trabalho. Ele o emprestou para mim após uma conversa sobre um livro que eu havia lido e ele citou a história de Valéria. Obrigada, Luís Antônio! Faço questão de constar aqui o meu agradecimento à autora por escrever de forma corajosa. Ela resolveu escrever por insistência de seus amigos após ficar muito doente e ser hospitalizada. Transcrevo trecho do livro dela:
“Já devia ter começado a escrever há algum tempo mas, como escrever sobre a vida da gente não é nada fácil, vivo adiando. Ainda hoje me ligaram a Priscila e o Cristiano, e os dois me cobraram:
- Já começou a escreveu o livro?
Não. E já teria desistido se na semana passada não tivesse ido na Sylvia e, por coincidência ou sei lá o quê, ela tivesse dado a mesma ideia: escrever. Eu disse que já havia pensado naquilo, só que achava muita responsabilidade.
- Não escrever também é – ela respondeu. E isto não saiu da minha cabeça a semana inteira.”
Eu me lembro das propagandas “AIDS mata”. Eram de assustar mesmo. Quando Valéria descobriu ser soropositiva, eu estava com 15 anos de idade. Foram ditas muitas coisas absurdas na época. “Não beijem na boca de quem tem AIDS”. “Não encostem no sangue”. “Não sentem no vaso sanitário”. Na escola, eu e meus colegas tínhamos medo. Valéria conta de uma palestra nada esclarecedora que assistiu no seu colégio. Como falavam que a AIDS só atingia as pessoas promíscuas, os usuários de drogas e os gays, davam a entender que o restante das pessoas estava longe de se contaminar com o vírus. A jovem já sabia ser portadora do HIV, mas não conseguiu criar coragem para contar a sua história naquela palestra. Era virgem e nunca usou drogas. Como se contaminou? Na relação sexual com o seu primeiro namorado, quando tinha 16 anos de idade. E sem usar a camisinha. Ela conheceu o rapaz durante uma viagem de navio para a Argentina no Natal de 1986 com o seu pai e sua irmã mais nova. Já estavam namorando havia seis meses quando resolveram transar pela primeira vez.
Viajou duas vezes aos Estados Unidos já sabendo ser uma moça com o HIV. A primeira viagem foi em 1989 e ficou hospedada na casa de seus tios. E a segunda, em 1993, quando estudou inglês em uma universidade de San Diego e viveu em alojamento para estudantes. Nesse país percebeu que não se falavam “AIDS mata”. Lá se diziam sobre a prevenção e como quem tem o vírus deve se cuidar. Antes de ir aos Estados Unidos pela segunda vez, chegou a fazer uma faculdade no Brasil. Abandonou, porque concluiu que não daria tempo de viver naquilo que iria estudar. Como no Brasil falavam que quem possui o HIV conseguia viver por 10 anos, Valéria fez as contas e viu que o décimo ano de sua vida com AIDS seria exatamente o ano que terminaria a faculdade. Viajar e estudar inglês ao mesmo tempo era o que queria fazer. Valéria não viveu reclusa. Pelo contrário, desejou e conheceu pessoas de diferentes países e culturas.
“Depois daquela viagem” foi escrito em linguagem simples, na forma de bate-papo. Parece se destinar ao público jovem. No entanto, a leitura é interessante para todo tipo de público, especialmente aos pais, médicos, educadores e pessoas que conhecem alguém ser portador do HIV. Para mim, a leitura foi bastante envolvente e me deu muitas reflexões como, por exemplo, não conhecer nenhum amigo com vírus da AIDS. Graças a Deus, nenhum dos meus amigos o tem. Mas... E se possui? Conte-me. Não vou deixar de ser sua amiga só por causa de um vírus.
Além de relatar a sua história e dos alertas dados sobre os cuidados para não contrair o HIV, Valéria também trata da violência que sofreu do seu primeiro namorado. E aconselha não ter vergonha para denunciar tal ato. Faz um agradecimento aos doadores de sangue que ela precisou tanto nos momentos mais difíceis.
Gosto de registrar como um livro parou em minhas mãos. O exemplar de “Depois daquela viagem” que está comigo pertence ao meu amigo Luís Antônio, ex-colega de trabalho. Ele o emprestou para mim após uma conversa sobre um livro que eu havia lido e ele citou a história de Valéria. Obrigada, Luís Antônio! Faço questão de constar aqui o meu agradecimento à autora por escrever de forma corajosa. Ela resolveu escrever por insistência de seus amigos após ficar muito doente e ser hospitalizada. Transcrevo trecho do livro dela:
“Já devia ter começado a escrever há algum tempo mas, como escrever sobre a vida da gente não é nada fácil, vivo adiando. Ainda hoje me ligaram a Priscila e o Cristiano, e os dois me cobraram:
- Já começou a escreveu o livro?
Não. E já teria desistido se na semana passada não tivesse ido na Sylvia e, por coincidência ou sei lá o quê, ela tivesse dado a mesma ideia: escrever. Eu disse que já havia pensado naquilo, só que achava muita responsabilidade.
- Não escrever também é – ela respondeu. E isto não saiu da minha cabeça a semana inteira.”
Após “Depois daquela viagem”, lançado em 1997 e traduzido na Itália, Alemanha, Áustria, Portugal, Espanha e em diversos países da América Latina, Valéria escreveu mais livros não autobiográficos:
- “Papo de Garota” (2001) – compilação de crônicas publicadas na revista “Atrevida”, onde foi colunista;
- “Enquanto estamos crescendo” (2003) – livro de crônicas, onde criou personagens ficcionais;
- “Grandes amigos – Pais e filhos” (2004) – com vários autores.
Hoje Valéria participa de seminários, encontros e mesas redondas e dá palestras em escolas e faculdades sobre o tema AIDS. Casou com um austríaco e descasou. Concluiu o curso de Comunicação Social - Jornalismo em 2007. Trabalha como jornalista e cursa pós-graduação em Criação Literária. E... Adivinhem? Ela tem um blog! Visitem: http://valeriapiassapolizzi.blogspot.com/
Lu Vieira
Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo esquerdo e receba mais posts no seu email. É grátis!
- “Papo de Garota” (2001) – compilação de crônicas publicadas na revista “Atrevida”, onde foi colunista;
- “Enquanto estamos crescendo” (2003) – livro de crônicas, onde criou personagens ficcionais;
- “Grandes amigos – Pais e filhos” (2004) – com vários autores.
Hoje Valéria participa de seminários, encontros e mesas redondas e dá palestras em escolas e faculdades sobre o tema AIDS. Casou com um austríaco e descasou. Concluiu o curso de Comunicação Social - Jornalismo em 2007. Trabalha como jornalista e cursa pós-graduação em Criação Literária. E... Adivinhem? Ela tem um blog! Visitem: http://valeriapiassapolizzi.blogspot.com/
Lu Vieira
Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo esquerdo e receba mais posts no seu email. É grátis!
Muito legal! Acho importante essas discussões, porque mesmo hoje, com tanta informação, ainda tem muita gente que acha que AIDS é doença de gente promíscua e gays. Por exemplo, aquele diálogo absurdo no BigBrother, que a Globo nem fez questão de corrigir os participantes, né? :/
ResponderExcluirAcontece que é muita informação é pouco interesse, pouca atenção. Como se todo mundo só se importasse com isso quando atingir a si mesmo ou a própria família.
Beijos!
Luciana, um texto profundo que retrata que a nossa vida as vezes esta por um fio, situacoes que nos acontecem sem o nosso controlo de poder evitar. Ha que seguir em frente, demonstrando atraves das nossas experiencias que podemos ajudar os outros. Concerteza que vou passar no seu blog!
ResponderExcluirBeijo
Nossa... deve ter sido realmente dificil para ela expor sua situação.. agora, com livro, deve ter se visto em novo dilema, como você bem descreveu ali...
ResponderExcluirRealmente, os mitos ainda existem mesmo na "Era da informação". é uma pena...
Lu, gosto de ler um texto que aguça minha vontade de fazer algo. Este texto me aguçou a vontade de ler o livro da Valéria... isso é muito legal...
valeu pela dica e parabéns pelo texto!
Abração do Mr.
Que lindo seu post!!!! O livro que você leu é bem no estilo dos livros do Samir, né?
ResponderExcluirE, por falar nele, lancei a promoção!!!!!
A promoção começa hoje. Passa lá pra comemorar esse primeiro ano comigo?
beijos!
Stella, obrigada pelo seu elogio. Não assisti o Big Brother, mas soube do tal diálogo absurdo. A TV Globo perdeu uma boa oportunidade para abordar o assunto de forma correta e esclarecedora. Se educa os participantes, educa quem assiste o programa. Sim, há muita informação e pouco interesse. Infelizmente, só há importância à informação se acontecer algo com a pessoa mesmo ou com alguém próximo dela. Beijos!
ResponderExcluirSe algo fugiu do nosso controle, é possível continuar caminhando na vida. Basta encontrar uma nova motivação. E uma das boas sugestões de motivação, como você disse, é ajudar os outros com as nossas experiências. Beijo para você também, Eu sei que vou te amar.
ResponderExcluirMr. Gomelli, penso que a Valéria foi muito corajosa e sincera em expor a sua história. Com o livro, acho que ela não se viu em novo dilema. Creio que ela lançou um desafio para si mesma: oferecer às pessoas esclarecimentos sobre a AIDS usando como exemplo a vida dela.
ResponderExcluirInfelizmente, apesar da "era da informação", ainda existem muitos mitos a serem derrubados. São assuntos que muitos jornalistas deveriam explorar mais.
Obrigada pelo seu elogio e fiquei muito feliz em saber que ajudei a despertar o seu interesse pelo livro da Valéria. Um abração para você também.
Sim, Carla, também acho que o estilo do livro da Valéria é semelhante aos do Samir. Por isso que não vejo a hora de adquirir os livros do Samir.
ResponderExcluirJá fui lá conferir a promoção e irei participá-la. Adorei a forma que você está fazendo para comemorar o primeiro ano do seu blog Leitura (Mais) que Obrigatória. Parabéns!
oi lu
ResponderExcluir1 dos trabalhos sociais q fiz na faculdade foi orientar as entidades q trabalham com soropositivos em minha cidade. como cursava direito, elaboramos seminários, cartilhas e palestras para q eles conhecessem todos os direitos (trabalhistas, previdenciários, penais etc.) q a lei lhes confere.
foi uma experiência enriquecedora e alarmante. descobri q na minha cidade, com cerca de 200 mil habitantes, tem 300 soropositivos cadastrados pela secretaria de saúde, mas q o n. real é de pelo menos 5x. isso pq a maioria por aqui tem medo de fazer o exame e descobrir q tem. e o agravante, o grupo de maior risco aqui é o da 3ª idade, pois é difícil mudar a mentalidade dos velhinhos para se protegerem.
concluo deixando uma frase q virou lema na minha empreitada acadêmica: "todos nós temos de ter o hiv, em nossas mentes. sem ele lá, fica difícil se prevenir ou amar aqueles q o tem."
1 abraço
Lu,
ResponderExcluirimagino o tanto de sofrimento que ela passou . E fico pensando quantas dificuldades ela enfrentou e passou sem se deixar levar, principalmente. Está ai para provar tudo isso com a sua contribuição através da escrita, palestras, blog...Enfim. Um grande prazer saber desta história. Obrigada, Lu!
Carinhoso beijo!
JLM, gostei muito do relato de sua experiência. É preocupante constatar que tem gente que não quer fazer o exame por medo. As consequências disso vão ser a falta de cuidados consigo mesmo e mais pessoas sendo contaminadas por causa dos medrosos. E gostei mais ainda do seu lema. Genial! Um abraço!
ResponderExcluirSam, que bom que você gostou de saber da história da Valéria. E eu também faço o meu agradecimento, pois é um prazer ter você aqui lendo os nossos escritos e deixando sua opinião. Carinhoso beijo para você também!
ResponderExcluirOla Luciana,
ResponderExcluirQue bom ler os seus textos nao so aqui, mas tbem no site do Agonia. Muito obrigada pela sua participacao la. Por favor passe a dica do site aos seus amigos. Estamos sempre a procura de colaboradores.
Abracos,
Bernadete
http://piassa-braziliansoul.blogspot.com/
http://portugues.agonia.net/
Dete, é uma alegria participar do site do Agonia com meus textos e também conhecer escritos de outras pessoas. Colaborarei mais vezes e divulgarei o site para meus amigos. Obrigada e abraço!
ResponderExcluir