terça-feira, maio 29, 2007

Cabelos vermelhos.


Ela era bonita.
Ela era bonita e pequena. Jovem e sexy. Tinha o corpo pequeno e uma bunda perfeita. Pelo menos quando ela tinha treze anos que foi quando nos conhecemos.
Lábios carnudos e olhos verdes. Não de um verde puro e misterioso. Era um verde cheio de malícia e sensualidade. Os cabelos num tom perdido entre o castanho e o vermelho. Esse era o corpo. Mas havia também a personalidade que era alegre e divertida.
Estes eram seus atributos. Tais eram eles que, poderia tranquilamente ocupar a vaga de Eva no Éden e levar á perdição Adão, a serpente e o guardião.
Nunca namoramos, mas nossas vidas caminharam juntas por alguns momentos da nossa existência. Jantares e festas. Danças e viagens. Amigos ou até inimigos em comum. Lembro ainda da noite de inverno em São Francisco do Sul. O carro estacionado na prainha. O vento forte vinha do sudeste. O frio era afastado a base de generosas doses de conhaque. Ela tinha feito sexo dentro do carro. E o cara não tinha sido legal com ela. E encostada no carro eu abracei o seu corpo e enxuguei-lhe o pranto. Ouvi suas lamentações. E lembrei-lhe das coisas boas da vida. Dividi o calor de meu corpo. E cuidei dela naquela noite.
Anos passaram e de novo eu estava lá. Encontramo-nos. Ela estava mais cheia de corpo e de rosto. Trazia agora um filho. Mas guardava ainda uma beleza maliciosa.
Eu também havia mudado. Mais a mente que o corpo.
Houve beijos, abraços, carinho e amizade. Encontros fortuitos. Orquestrados pelo destino. Não havia pressa nem afobação. As coisas seguiam seu caminho de forma tranqüila, porém constante.
Mas a vida ta aí pra bater na nossa cara e chutar nosso corpo quando estamos caídos e indefesos. E ela faz questão de usar armas cruéis e inesperadas.
Ela foi essa arma. Palavras proferidas com a melhor intenção de ferir e fazer sofrer. Lâminas afiadas sobre um coração oprimido. Que prazer e volúpia a dominou nesse momento? Não sei dizer. Tudo que sei é que a dor transbordada alimentou-me o desejo de vingança. Atônito não compreendi o porquê dos golpes. Onde estava o mal que eu teria feito a ela pra merecer semelhante pagamento? Esse mal eu nunca achei. Mas o desejo de ir a forra continuou comigo.
Vingança. Pensamento que fermenta. Tal como a cerveja de um porre. Aquilo fica fermentando lá dentro e vai te intoxicando. Cada vez mais. Imaginei-me cara a cara com ela. Eu cuspia no seu rosto. Olhava nos olhos e perguntava por que tudo aquilo. Pensei isso e muitas outras coisas mais. Mas essas coisas não aconteceram. Não precisei fazer nada. A vida cuidou de tudo pra mim. Minha revanche veio numa manhã de inverno. Na rodoviária da cidade, eu andava de um lado para outro enquanto meu ônibus não chegava, avistei-a. Não nos falamos. Nem nos cumprimentamos. Mas ela me reconheceu. Eu vi o seu corpo mudado. Já não trazia a formosura de antes. As carnes mostravam-se flácidas. O ventre era proeminente e a harmonia das curvas estava perdida pra sempre. Os cabelos mal tratados e sem brilho. O rosto abatido e envelhecido prematuramente. Na barra da calça um mulatinho e no colo uma criança. Ao seu lado o marido/macho/amante ou, seja lá, o que quer que aquilo fosse. Baixo, gordo e com um jeito bronco de andar.
Perante aquela cena fui tomado pela certeza de que nada que eu pudesse fazer seria tão destrutivo quanto o que ela havia feito a si mesma.
Segui meu caminho com um sorriso nos lábios e a paz no coração. E principalmente uma fé inabalável na vida e na certeza de que tudo dá certo no final.

36 comentários:

  1. adorei! principalmente essa conclusão, onde você colocou: "Perante aquela cena fui tomado pela certeza de que nada que eu pudesse fazer seria tão destrutivo quanto o que ela havia feito a si mesma."

    essa foi (também) sua vingança?

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  2. Ela: Sim! Essa foi a minha vingança. E espero que consiga levar a minha vida sempre assim. Deixando que a vida se vingue por mim. Sei não sou bom em fazer o mal. Então deixo isso por conta dos outros e da vida. No fim é a velha história: "Colhemos o que plantamos."
    Beijos.

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  3. bem interesante chegou na hora extada esse texto ,pois era disto q precisava ler antes de fazer algo.

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  4. Mto intenso! Certamente todos nós já nos sentimos alguma vez incompreendidos e alvo de injustiça e é perfeitamente compreensível que experimentemos, nem que seja apenas por momentos, um certo sentimento de prazer qdo nos apercebemos que a vida se encarregou de fazer justiça por nós.
    Tb pode ocorrer que, como humanos que somos, avaliemos ou interpretemos incorrectamente as atitudes dos outros, cometamos erros e num dado momento ou circunstância, não sejamos as únicas vítimas. Há situações que requerem ser esclarecidas sob pena de nos perseguirem o resto da vida.

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  5. Ora bem, na verdade a vida se encarrega de os fazer pagar ou seja receber o troco que nós não fomos capazes de dar..Eia que ainda tem muita gente esperando receber trocados de mim ehhhh, mas a vida dá ora se dá..
    beijinhos moço lindo..

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  6. Escorpiana: espero que o texto te inspire coisas boas.
    Beijos.

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  7. Adri: o que importa é saber se você agiu de acordo com suas crenças pessoais. Se fez isso e a pessoa fez-lhe algo que você considera mau então simplesmente afaste-se dela e deixe que a vida se encarregue do resto.
    Beijos pra você.

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  8. Laura que exagero! Quem iria querer fazer mal a uma fada feito você?
    Beijos.

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  9. Sim, Alves. Já me acontecer dar carinho e receber ofensa.
    Claro que agi de acordo com a minha consciência, e claro que tb me afasto, mas cada "pedrada" deixa moça. Em ti não? Tb serve como lição de vida, mas quase sem nos apercebermos, vamos ficando amargos.
    1 beijo

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  10. Há pessoas que escolhem mal os seus destinos!

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  11. Adri com certeza cada pedrada vai aos poucos deixando-me mais amargo. Não sou tão puro assim que escape ileso as maldades do mundo.

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  12. Não gosto do sentimento de vingança. Acho que a vida nos dá de volta o que semeamos. Assim... mesmo que magoada, não me vingo. **

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  13. Andreia: eu diria assim: Há pessoas que plantam mal os seus destinos.
    Beijos pra ti moça bonita de Portugal.

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  14. Vida: como eu disse no texto. A melhor vingança é fazer absolutamente nada. Apenas ficar esperando pra ver a pessoa se afundar sozinha.
    Um abraço.

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  15. caiu bem esse texto.

    hoje fui sacaneada e vinganca rulezzz. nem sou santa hehehehe!

    beijoooo
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  16. Moço quanto melhoes pessoas formos mais pedradas levamos. Já fui sim magoada e muitas vezes e quantas vezes depois de ajudar e pimba, mas nunca me vingo nem desejo mal nenhum... Sei por experiência e pelo que vejo que a vida põe a todos no seu verdadeiro lugar, mais cedo ou mais tarde tudo se resolve.
    Olhe ai uma coisa minha, há anos meu casamento acabou, claro que fui atraiçoada e bastante, mas pronto, estava pensando o que fazer para que o cara (pai dos meus filhos) pagasse pelas coisas que estava fazendo..resoluta fui pensando pensando, e como não tenho coração para afzer mal, desisti, sentei na cama, chorei da alma dorida e abri a Biblia ao acaso e logo na ponta da página onde começava, li...Minha é a vingança, eu lhes darei o pago!
    Apenas consegui dizer baixinho. Obrigada Senhor, eu não quero ter ódio e raiva no coração, eu quero dormir descansada, em paz, sem ter remorsos de nada, e nada fiz nada mais pensei, e hoje ou amanhã é com Deus... e sou amiga dele e da familia dele, e recebi a filha de quem fez desmoronar o meu lar, aqui em casa e enchi-a de amor e carinho, tinha seis anos na época que veio cá de férias... e a menina me ama e fala sempre em mim..foi assim mesmo, a menina nda de culpa tem, e o que aconteceu já passou, doeu, mas acabou e já nem penso em nada de mal..Não me vinguei porque não estava certo se tivesse esse sentimento cá dentro, e não tenho...Beijinho a vc e hoje saiu jornal e vc é que é o jornalista ehhh.
    A propósito aquele assunto nosso quando trata dele? de escrever o que pedi?caludinha ehhhhhhhh

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  17. Voltei a passar por aqui, mas já tou de saída. Gostei mesmo deste texto ... fez-me reviver pedaços da minha vida que não sendo bons, tb já não mexem comigo.
    1 beijinho

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  18. Holaaaaaaaaaaa!!!!... aqui estoy, de vuelta por fin jeje!... espero que me hayan extranado jeje! :P

    Bueno ya no mas desapariciones, un beso, cuidate mucho, bye bye!

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  19. Gostei muito de te ler neste texto (este é actual? É assim, partilhando ideias e vivências que nos damos a conhecer.
    Uma vez escrevi um texto cujo tema era "por bem fazer, mal haver", mas não tem forçosamente de ser sempre assim e tb há o ditado que dá a ideia inversa "pratica o bem, sem olhar a quem".
    O importante é a lição que tiraste e o facto de te sentires bem contigo próprio
    1 Beijo

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  20. Amei... Lindo texto! O final entao...
    Bjs meus

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  21. É laurinha sua vida tem cada história! E a cada história que sua que eu conhece eu vejo o quanto você já batalhou pra chegar a ser o que é hoje.
    Beijos.

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  22. Pascoalita: só pra matar a sua curiosidade o texto é recente. É de 27 de agosto de 2006. Hoje em dia já não me preocupo tanto em ajudar. Antes eu era mais prestativo.
    Beijos pra ti.

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  23. Sacanitas: sabemos que não és santa e nem queremos que seja. Preferimos assim pecadora mesmo.
    Beijos.

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  24. Menino - :) - gostei deste post para caramba! muitas vezes temos o que se chama em ingles de "infactuation" bem forte por alguém mas tb pode acontecer que seja apenas fisico.

    O que acontece é que as vezes aos escolhermos a pessoa pelo fisico ao detrimento de outros atributos, ela pode tornar-se o que se tornou.

    A frase "Perante aquela cena fui tomado pela certeza de que nada que eu pudesse fazer seria tão destrutivo quanto o que ela havia feito a si mesma." nao podia estar mais potente.

    Parabéns pelo post, blog e pessoa q voce mostra aqui ser.

    Beijos

    A Elite

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  25. Pois eu gostei de saber que aquilo a que chamas recente, reporta a quase um ano, o que faz com que acredite que o tempo tenha de facto serenado o teu espírito.
    Há sempre um período de tempo mínimo necessário para curar cada ferida.
    Tb teho algumas, felizmente pequenitas e poucas, cicatrizes.
    1 beijinho

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  26. Já te disse que pequenas cicatrizes são sexys?

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  27. Ehhh este nosso nino nem parece, mas é bem sabido e malandreco..pecadora mesmo é o que é preciso. Santos de casa já nem milagres fazem é? ehhhhhhhhh vai beber o cafézinho que arrefece,t ens lá chupas pá nina pequena, se tiveres pc em casa mostra para ela logo que é o dia da criança...

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  28. Dia da criança é 12 de outubro. E um caféfinho vai bem tá frio aqui no sul.

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  29. na certeza de que tudo dá certo no final.


    gostei da descrição...e da sensação de alivio que o protagonista sente no final. Um abraço desde Lisboa.

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  30. Obrigado pelo abraço e retorne sempre.

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  31. Que bella mujer describes, y a pesar de que a muchas palabras no le entiendo, esté post, es el más claro que le he leído y me encantó.


    Besos!

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  32. Belo texto, vem ao encontro do que costumo dizer:« Sei que um 'sacana' vai sempre cruzar-se ao longo da sua vida com um 'sacana' maior do que ele, e esse fará justiça por mim, por isso não costumo mover uma palha...»
    Deus não brinca em serviço! ;)

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  33. "Deus não brinca em serviço" diz a nina Ahlka e como sempre ouvi dizer que "Deus não dorme" vamos esperar que se a justiça chegue, ainda que tardia.
    Boa semana

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  34. Agora a Ahlka me assustou. Posso até imaginar aquele sorriso frio e malévolo surgino em seu rosto bem lentamente.
    Medo!

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  35. Hehehe...descontrai, que não faço mal a uma mosca, nem cultivo nada espiritual. :)

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  36. Sempre que leio um de seus textos, vejo me remetida a fórmula Rodriguiana, apesar de não ser voltada completamente para o erotismo, um toque de Nélson você tem em seus dedos. Posso lhe confessar que é isto que me faz leitora assídua de seus textos (embora não os comente - às vezes não tenho tempo), porque acho em suas linhas pitadas de ódio, erotismo, inveja, soberba... as vezes despudoradamente. Posso dizer que seus posts são mais viscerais do que textos que já partem pra literatura agressiva, por que mesmo não constando as palavras escrachadas, vão direto ao ponto como uma facada. Parabéns pelo seu trabalho, saiba que ela não foi a única.

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Se você se deu ao trabalho de escrever então nós iremos responder.