segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Lembranças. Parte I

Hoje era um daqueles dias especiais. Ela caía feito chuva. Podia-se ver os pequenos grãos dançando no ar. As chaminés da fundição despejavam toneladas de fuligem todos os dias. Mas hoje estava demais. Fora da fábrica estava tão difícil de respirar quanto lá dentro.
Saiu do galpão. Manquejando diretamente para seu automóvel. Ouviu atrás de si uma voz familiar a chamar-lhe por um nome que deixara de ser seu há muitos anos. Fingiu que não era com ele e apertou o passo. Ouviu o chamado novamente. Entrou no carro. Ligou o motor.
- Hefesto! Rapaz há quanto tempo. – o carteiro lhe bloqueou a saída do estacionamento fazendo uso do próprio corpo.
Agarrou o volante com firmeza e deixou que sua cabeça despencasse sobre o pequeno círculo da direção. Isso não estava acontecendo. Realmente não queria que aquilo acontecesse com ele. Mas agora era tarde demais. Não havia como se esconder.
- Hefesto! Não reconhece mais os irmãos?
Era um fato. Não podia negar. Aquele cara louro era seu irmão. Apesar de não se verem há séculos isso não deixava de ser verdade. Muito a contragosto saiu do carro. O contraste era gritante, mesmo os dois usando seus respectivos uniformes de trabalho. Hermes. Alto, atlético, loiro. Hefesto. Peludo, baixinho, rotundo, coxo e feio. Generosamente feio.
- Eu não tinha lhe reconhecido. Minha vista não anda boa ultimamente.
- Vem cá me dá um abraço. – e já foi se agarrando ao irmão. Para logo em seguida afastar-se fungando e tomar um lugar contra o vento. O irmão continuava fedendo.
- E então que fazes aqui?
- Bem! Isso é uma fundição. Eu era metalúrgico. Acho que estou no lugar certo.
- Certo! Certo! Eu não imaginava que estaríamos juntos. Quem diria? Na mesma cidade!
- É! E você Hermes o que anda aprontando?
- Sabe como é. Com a falência do Olimpo não me restou muito a fazer senão arrumar um emprego. E assim eu andei por ai até que parei no Correio. Sabe como é, uma vez mensageiro, sempre mensageiro.
Silêncio.
- Casou? Filhos? Casa? Conte as novidades. Depois que os cultos acabaram cada um foi cuidar da sua vida e acabamos perdendo contato uns com os outros.
Muito a contragosto Hefesto contou sobre como estava se adaptando bem naquele país. Arranjara um emprego, uma esposa amorosa. Nem tão bela quanto Afrodite, mas com certeza muito mais fiel que aquela vaca. Tinha dois filhos. Um casal. Por sorte os dois eram crianças normais. Havia comprado uma casa num bairro afastado. No fim de semana ia pescar e às vezes ia beber com os amigos no boteco perto de casa.
- E você Hermes que tem feito da vida?

4 comentários:

  1. "Criancas normais?" Explica-me!
    Bjs meus

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  2. Os filhos dos deuses tinham tendência a nascerem deformados e monstruosos. Exemplo ciclopes, que eram filhos de netuno.
    Poucos deuses geravam filhos normais.

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  3. Oi estava com saudades,comecei a trabalhar então fiquei meia preguisosa para visitar,mas ja estou reculperada da priguisa.

    Adorei esses texto,muito legal mesmo,o assunto nota 10.Pena que eu nem sei o que falar mas,me digas era normal acontecer isso com esses Deus diretamente amigo desculpe a burrice mais estou perdita na fala quero dizer acontecia en seguido isso ai dos filhos de Deus nascerem com defeito.


    Um bjão.

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  4. Caro Alves: visitou o meu blogue, onde deixou uma interrogação. Sou historiador e linguista amador, pelo que dedico muitas horas de estudo a assuntos de toponímia e da maneira de falar do Minho e de Trás-os-Montes.

    Os artigos que estão a ser publicados no meu blogue COURA: magazine, não são sobre a norma erudita e geral da Língua Portuguesa, mas assim alguns apontamentos sobre a maneira de falar dos minhotos, com a sua pronúncia e dialecto fonético local.

    Portanto é uma característica própria de falar somente do Norte de Portugal.

    Neste meu blogue às segundas-feiras falo de linguística, às terças de poetas da minha terra, às quartas falo de toponímia de Paredes de Coura, às quintas falo sobre as cantigas e versos tradicionais e populares, às sextas pinho um vídeo, no sábado falo sobre a cozinha tradicional do Minho, e os domingos são dedicados a Aquilino Ribeiro, o maior escritor português do século XX.

    O seu blogue causou-me agradável impressão pela qualidade da temática, de modo que passarei a visitá-lo mais vezes.

    A coincidência do meu apelido ser também Alves.

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