segunda-feira, março 22, 2010

Bolshoi e Giselle

Bolshoi significa grande em russo. No dia 15 de março foram comemorados os 10 anos da fundação da primeira Escola de Teatro Bolshoi no Brasil. É a única escola fora da Rússia, donde fica a matriz. O Festival de Dança, que acontece uma vez por ano no mês de julho, foi um dos fatores favoráveis à escolha de Joinville para ser filial da Escola Bolshoi. Este ano o Festival de Dança de Joinville chega na 28ª edição. Os bailarinos da Escola Bolshoi em Joinville festejaram o décimo aniversário colocando em prática o seu aprendizado: dançando.

Foram três noites de apresentação. Na primeira, exatamente no dia que completou 10 anos, foi apresentado o espetáculo “Don Quixote”. Eu não estava presente para prestigiá-lo. Na segunda noite, o clássico “Giselle” deu o ar da sua graça. Eu fui assisti-lo. Os alunos do Bolshoi estrearam esse espetáculo com louvor. Já havia visto “Giselle” anos atrás com outro grupo de bailarinos. É uma história de amor e tragédia contada pela primeira vez na dança em 1841. No terceiro e último dia foi a Noite de Gala, quando foram apresentadas várias coreografias representando as culturas de outros países, além do Brasil, como “A Morte do Cisne”, “Dança Francesa”, “Valsa das Flores”, “Dança Maracatu” e “Gopak”. Também vi esses espetáculos.

Os dois primeiros parágrafos apenas introduzem sobre o que realmente desejo tratar: o espetáculo “Giselle”. Não quero dizer que foi o espetáculo que mais gostei. Todos os que assisti foram excelentes. Como “Giselle” possui uma coreografia longa, dividida em dois atos, permite extrair várias observações.

Coube a Natalia Osipova interpretar a personagem principal. A bailarina russa veio especialmente a fim de apresentar juntamente com os alunos do Bolshoi em Joinville. Além dela, veio também o bailarino russo Ivan Vasiliev para encarnar o personagem Albrecht.

Na história, Giselle é uma camponesa que se apaixona por Albrecht. Ela se decepciona ao saber que Albrecht é um nobre disfarçado de camponês e já tinha uma noiva. Além de Albrecht, o caçador Hilarion também é apaixonado por Giselle. É ele quem descobre a verdadeira identidade e o denuncia. Ela se deprime e morre de tristeza. Esse é o primeiro ato da coreografia, com cenário alegre e colorido assim como as roupas dos bailarinos.

No segundo ato mostra o que acontece depois da morte e do enterro da camponesa, com cenário sombrio e escuro. O espírito dela se torna refém das “willis”, fantamas das garotas que morreram também por decepções amorosas. As “willis” expulsam qualquer presença masculina em seu reino. Myrtha, a rainha, tenta introduzir Giselle no mundo das “willis”. Albrecht vai ao túmulo para chorar a morte de sua amada e vê os fantasmas, incluindo Giselle. É condenado por Myrtha a dançar até morrer de cansaço. Como não consegue obter o perdão da rainha, Giselle o ajuda e, por vezes, o subtitui. Chegada a aurora, as “willis” desaparecem, Giselle volta ao seu túmulo e Albrecht cai desfalecido. Antes de Albrecht, a primeira vítima foi Hilarion que também tinha ido visitar o túmulo de Giselle.

Os bailarinos, principalmente os que interpretaram os personagens principais, conseguiram imprimir com perfeição o seu papel. Eu não estava perto do palco para ver as expressões dos seus rostos. Isso não foi problema. A maneira como se posicionavam dava para perceber quais eram os sentimentos dos personagens.

Para alguns, a história pode ser uma bobagem. Alguns podem dizer: “Não se morre por causa do amor”. Será? Eu acredito que se morre dessa forma. Embora a desilusão amorosa não conste no atestado de óbito, há outros nomes por trás da morte por tristeza tais como suicídio, depressão, derrame. Claro que não são exatamente essas palavras. São colocados termos médicos que podem ser que não entendemos.

Giselle não precisava morrer de tristeza. Poderia ter dado chance para Albrecht ser perdoado. Poderia ter lidado melhor com a situação. Mas ela deixou a tristeza dominar o seu ser. Cada um tem o seu jeito de agir. Esse foi o dela. Na primeira versão do espetáculo, Giselle se suicidava enterrando a espada no seu peito. Na época, essa atitude provocou forte comoção nos espectadores. Assim, os criadores da obra tiveram que alterar a história trocando a causa da morte por tristeza.

Amor é um assunto que interessa a todo mundo. Todos precisam e merecem amar e se sentir amados. É difícil definir o amor e falar dele. Mas não é impossível. Mostrem o seu amor e falem também. Não adianta falar sem mostrar. E não adianta também mostrar sem falar. Ninguém adivinha exatamente o que o outro pensa e sente.

Perceberam? Escrevi a minha opinião sobre “Giselle”. Assim como um livro ou um filme, uma coreografia como “Giselle” provoca reflexões. Fiquei envolvida na história e na dança. Tive vontade de entrar no espetáculo para dançar. Ouvir a música e ver os saltos, os rodopios, os movimentos dos braços, a inclinação dos corpos me deixaram em êxtase. Os bailarinos conseguiram ganhar meus muitos e demorados aplausos e provocar lágrimas discretas no meu rosto.

Meus aplausos não foram somente para os bailarinos. Também a todos os bailarinos que passaram pela Escola Bolshoi em Joinville, diretores, professores e funcionários. Por todos que construíram e constroem a história da escola de forma direta ou indireta. Se os bailarinos do Bolshoi de Joinville se apresentarem na sua cidade em turnê, não deixem de prestigiá-los. Se vocês visitarem Joinville, venham vê-los. Eu recomendo!

Lu Vieira

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12 comentários:

  1. Bom dia, Lu! Fiquei feliz com esta postagem. Tenho uma filha, formada em ballet clássico. E foi excelente para a formação cultural dela. Porque desde crianças apuram também o contato com a música e demais artes. Além da disciplina e postura física elegante.

    Ótima semana, Lu! Beijos

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  2. Lu gostei do post. Que bom saber que você está aproveitando o lado cultural de Joinville. Não deixe de nos informar.
    Um abraço moça.

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  3. O balé do Bolshoi deve ser de tirar o fôlego mesmo. :) Não é todo dia que pode-se ver profissionais desse nível, né?
    Muito bonita a história...

    Beijos!

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  4. Sam, adorei saber que a sua filha fez balé clássico! Considero importante o contato com as artes desde criança, pois ela jamais vai deixar o interesse por elas morrer. Sempre desejará conhecer todas as artes possíveis. O balé, por exemplo, além de se aproximar da arte, ensina como trabalhar com o corpo, a ouvir as músicas, a relacionar com outras pessoas, a explorar os sentimentos. Enfim, é como você disse. Ótima semana para você também! Beijos!

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  5. Alves, eu preciso conhecer, valorizar e sentir a cultura que existe em Joinville. Pode deixar comigo, que procurarei informá-los. Um abraço moço!

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  6. É isso aí, Stella, não é todo dia que temos a oportunidade de ver a apresentação dos bailarinos. Eu me senti privilegiada por ver os espetáculos de tirar mesmo o meu fôlego. Beijos!

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  7. Parabéns!
    É bom saber que o Brasil não é só futebol, carnaval e novelas.
    A escola russa é uma das melhores do mundo.
    Quanto ao enredo de Giselle, é a representação de um amor trágico que já não se usa.

    Beijinho

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  8. Obrigada, Carlos! Precisamos mostrar mesmo que o Brasil não é um país que só tem futebol, carnaval e novelas. Beijinho para você também!

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  9. bolʹshoĭ hronicheskie!

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  10. Jefferson ai tu quebra a gente. Nem o google traduziu isso.
    Um abraço.

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  11. ok, ok, então:

    grande crônica!

    ps: essa tava facim facim...

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  12. JLM, obrigada pela tradução. A primeira palavra dava para saber o significado, mas a segunda não estava fácil, hehe. Então, agradeço o seu elogio. Hummm, poderia dizer "obrigada" em russo... Achei no google que é assim: Spasivo.

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