quarta-feira, março 31, 2010

Faça a coisa certa

Podem me chamar de reacionário, machista, de troglodita antiquado, mas pra mim certas coisas tem que ser feitas à moda antiga. Digo e repito, não sou dado a essas “modernidades”. Se a natureza escolheu uma forma de ser para cada entidade é porque essa é a forma correta para elas.


Por isso que pra mim brigadeiro tem que ser bolinha. Misturar os ingredientes e serví-los numa panela, prato, bacia, etc. É servir um doce qualquer à base de chocolate. O que nem de longe retém a graciosidade de uma esfera achocolatada, coberta de chocolate granulado e suavemente depositada sobre uma singela forminha de papel. Isso sim é um brigadeiro. Que vem na dose certa pra se desmanchar na nossa boca. O que não tem nada a ver com o ato bárbaro, primitivo até, de comer com colher ou até mesmo com a ponta dos dedos.

Alguém pode argüir que dessa forma dá muito trabalho e que ser bolinha ou não é algo que não muda o sabor do doce. Mas e quanto a apresentação? Seriam os olhos indignos de receber um alimento minimamente trabalhado? Por que eles deveriam se contentar com uma massa escura e sem forma definida?

E antes que digam que sou preconceituoso, aviso logo que já comi o doce nas duas formas descritas neste texto e que minha opinião é baseada em experiências já vividas.

Resumindo: pra ser brigadeiro, tem que ser bolinha.
 
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segunda-feira, março 29, 2010

Sonhos nº 11. Portas fechadas

Há um sonho que não esqueço até hoje. Os meus sonhos não costumam ser bons ou são extremamente confusos. Imagens estranhas e bagunçadas. Se me lembro deles, dificilmente desejei que fosse realidade. Muitos anos atrás eu tive este sonho:

Estava dentro de uma casa imensa. Parecia ser um castelo e ficar numa floresta. Eu andava tranquila nos corredores da casa. Muitos corredores. Muitas portas. O lugar era escuro. Quando eu passava pelas portas, elas fechavam sozinhas sem barulho. Antes de fechar, percebia uma pequena claridade branca e intensa. Não havia ninguém na casa. Somente eu. As portas que fechavam não me incomodavam. Eu continuava andando. À medida que o tempo passava, meus passos aumentavam. E as portas cerravam mais rápidas e ruidosas. Elas faziam isso de acordo com a velocidade do meu andar. A tranquilidade que eu tinha deu lugar ao desejo. Queria ir para o outro lado da porta. Mesmo com esse desejo, elas continuavam fechando. O desespero tomou conta de mim. E eu corria e corria. De repente, parei diante de uma enorme porta aberta de onde saía uma forte luz branca. Fui em direção a ela. O meu desejo para entrar era grande. Quando dei mais alguns passos, a porta fechou de forma estrondosa. Aí eu acordei.

Lu Vieira

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sexta-feira, março 26, 2010

Coral

Vamos as boa notícias do dia, pois nem só de lamentos vive o homem. Desde quarta sou mais um integrante do coral Clave Sul. Já posso estragar músicas famosas com a cumplicidade dos colegas de trabalho e com o apoio da ECT. Falando sério agora, o coral já tem mais de 10 anos, é patrocinado pelos Correios e para 2010 promete ter uma agenda bem recheada.Com isso posso lidar com uma das minhas maiores frustrações dos últimos anos que era estar afastado da música.
Enfim torno a fazer algo que gosto muito sem ter que subtrair tempo algum da minha família.
Já deu pra notar que estou feliz?
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quinta-feira, março 25, 2010

Meu primeiro moleskine

Chegaram os Molecos que eu tanto esperava. Já que Moleskine no Brasil é artigo raro a gente se vira com os genéricos. No caso Molecos, moleskines feitos de material reciclado. Quem foi que disse que eu não dava bola pra ecologia? Agora é só tratar de viver e recheá-los com histórias.






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segunda-feira, março 22, 2010

Bolshoi e Giselle

Bolshoi significa grande em russo. No dia 15 de março foram comemorados os 10 anos da fundação da primeira Escola de Teatro Bolshoi no Brasil. É a única escola fora da Rússia, donde fica a matriz. O Festival de Dança, que acontece uma vez por ano no mês de julho, foi um dos fatores favoráveis à escolha de Joinville para ser filial da Escola Bolshoi. Este ano o Festival de Dança de Joinville chega na 28ª edição. Os bailarinos da Escola Bolshoi em Joinville festejaram o décimo aniversário colocando em prática o seu aprendizado: dançando.

Foram três noites de apresentação. Na primeira, exatamente no dia que completou 10 anos, foi apresentado o espetáculo “Don Quixote”. Eu não estava presente para prestigiá-lo. Na segunda noite, o clássico “Giselle” deu o ar da sua graça. Eu fui assisti-lo. Os alunos do Bolshoi estrearam esse espetáculo com louvor. Já havia visto “Giselle” anos atrás com outro grupo de bailarinos. É uma história de amor e tragédia contada pela primeira vez na dança em 1841. No terceiro e último dia foi a Noite de Gala, quando foram apresentadas várias coreografias representando as culturas de outros países, além do Brasil, como “A Morte do Cisne”, “Dança Francesa”, “Valsa das Flores”, “Dança Maracatu” e “Gopak”. Também vi esses espetáculos.

Os dois primeiros parágrafos apenas introduzem sobre o que realmente desejo tratar: o espetáculo “Giselle”. Não quero dizer que foi o espetáculo que mais gostei. Todos os que assisti foram excelentes. Como “Giselle” possui uma coreografia longa, dividida em dois atos, permite extrair várias observações.

Coube a Natalia Osipova interpretar a personagem principal. A bailarina russa veio especialmente a fim de apresentar juntamente com os alunos do Bolshoi em Joinville. Além dela, veio também o bailarino russo Ivan Vasiliev para encarnar o personagem Albrecht.

Na história, Giselle é uma camponesa que se apaixona por Albrecht. Ela se decepciona ao saber que Albrecht é um nobre disfarçado de camponês e já tinha uma noiva. Além de Albrecht, o caçador Hilarion também é apaixonado por Giselle. É ele quem descobre a verdadeira identidade e o denuncia. Ela se deprime e morre de tristeza. Esse é o primeiro ato da coreografia, com cenário alegre e colorido assim como as roupas dos bailarinos.

No segundo ato mostra o que acontece depois da morte e do enterro da camponesa, com cenário sombrio e escuro. O espírito dela se torna refém das “willis”, fantamas das garotas que morreram também por decepções amorosas. As “willis” expulsam qualquer presença masculina em seu reino. Myrtha, a rainha, tenta introduzir Giselle no mundo das “willis”. Albrecht vai ao túmulo para chorar a morte de sua amada e vê os fantasmas, incluindo Giselle. É condenado por Myrtha a dançar até morrer de cansaço. Como não consegue obter o perdão da rainha, Giselle o ajuda e, por vezes, o subtitui. Chegada a aurora, as “willis” desaparecem, Giselle volta ao seu túmulo e Albrecht cai desfalecido. Antes de Albrecht, a primeira vítima foi Hilarion que também tinha ido visitar o túmulo de Giselle.

Os bailarinos, principalmente os que interpretaram os personagens principais, conseguiram imprimir com perfeição o seu papel. Eu não estava perto do palco para ver as expressões dos seus rostos. Isso não foi problema. A maneira como se posicionavam dava para perceber quais eram os sentimentos dos personagens.

Para alguns, a história pode ser uma bobagem. Alguns podem dizer: “Não se morre por causa do amor”. Será? Eu acredito que se morre dessa forma. Embora a desilusão amorosa não conste no atestado de óbito, há outros nomes por trás da morte por tristeza tais como suicídio, depressão, derrame. Claro que não são exatamente essas palavras. São colocados termos médicos que podem ser que não entendemos.

Giselle não precisava morrer de tristeza. Poderia ter dado chance para Albrecht ser perdoado. Poderia ter lidado melhor com a situação. Mas ela deixou a tristeza dominar o seu ser. Cada um tem o seu jeito de agir. Esse foi o dela. Na primeira versão do espetáculo, Giselle se suicidava enterrando a espada no seu peito. Na época, essa atitude provocou forte comoção nos espectadores. Assim, os criadores da obra tiveram que alterar a história trocando a causa da morte por tristeza.

Amor é um assunto que interessa a todo mundo. Todos precisam e merecem amar e se sentir amados. É difícil definir o amor e falar dele. Mas não é impossível. Mostrem o seu amor e falem também. Não adianta falar sem mostrar. E não adianta também mostrar sem falar. Ninguém adivinha exatamente o que o outro pensa e sente.

Perceberam? Escrevi a minha opinião sobre “Giselle”. Assim como um livro ou um filme, uma coreografia como “Giselle” provoca reflexões. Fiquei envolvida na história e na dança. Tive vontade de entrar no espetáculo para dançar. Ouvir a música e ver os saltos, os rodopios, os movimentos dos braços, a inclinação dos corpos me deixaram em êxtase. Os bailarinos conseguiram ganhar meus muitos e demorados aplausos e provocar lágrimas discretas no meu rosto.

Meus aplausos não foram somente para os bailarinos. Também a todos os bailarinos que passaram pela Escola Bolshoi em Joinville, diretores, professores e funcionários. Por todos que construíram e constroem a história da escola de forma direta ou indireta. Se os bailarinos do Bolshoi de Joinville se apresentarem na sua cidade em turnê, não deixem de prestigiá-los. Se vocês visitarem Joinville, venham vê-los. Eu recomendo!

Lu Vieira

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sexta-feira, março 19, 2010

Desastre do photoshop

Pessoal ontem quando fazia compras e remoía o meu ódio por supermercados observei uma revista na boca do caixa. Na hora me liguei que aquilo poderia ser assunto para o Blue Bus e sua coluna Photoshop Disaster. Mandei e-mail para a responsável e hoje minha colaboração já está no ar. Quem quiser ver é só clicar aqui.


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quinta-feira, março 18, 2010

Detesto supermercados

Das coisas que não gosto, posso destacar, são os supermercados. Das coisas que gosto menos ainda, são, supermercados em época de Páscoa.
Chocolates por todos os lados não me incomodam, mas por que cobrir os corredores com ovos de páscoa?

A - Beleza
B - Depósitos cheios
C - Crianças destruidoras
D - O simples prazer de assistir as pessoas altas andarem curvadas feito corcundas

Particularmente acredito que a última opção seja a verdadeira razão desse costume idiota.


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quarta-feira, março 17, 2010

Que tipo de Ex é você?


Você é ex, mas não o sabe - isto porque na sua cabeça ainda existe um grande grau de compromisso entre ambas as partes. Lida mal com todas as relações que a sua antiga paixão possa ter da vida. Fica verde de ciúmes e apressa-se a arranjar defeitos horrorosos na nova relação do seu/sua ex - mesmo que a pessoa em questão seja top model, embaixador de Boa Vontade da ONU e voluntário na luta pela preservação do lince ibérico.

Não concordo muito com o resultado acima, mas foi o que deu para o momento. Para fazerem o teste é só clicar na imagem. Divirtam-se e depois voltem pra contar o que deu no teste de vocês.



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segunda-feira, março 15, 2010

Rosto comum

É impressionante como eu tenho cara comum. Não possuo um rosto exótico. Fui confundida diversas vezes com outras pessoas. Sou parecida com alguém, até com gente famosa. Já ouvi diversas vezes as pessoas falarem comigo assim: “Conheço você de algum lugar”. Olho para elas e me dá uma sensação ruim. Será que as conheço também? Não gosto de esquecer quem conheci ou conheço. Creio que ainda tenho boa memória.

Já fui parecida com a ex-atriz Lídia Brondi e as atrizes Silvia Pfeifer e Bel Kutner. Como a Silvia Pfeifer atua hoje numa novela da TV Record, me disseram que lembro muito a atriz. Só apareci na televisão uma vez na vida. Foi para uma televisão paga e veiculada somente em Joinville. Havia sido entrevistada num programa como veterana do curso de jornalismo. Junto comigo estava o calouro do curso. A ideia do apresentador era conhecer os pontos de vista de um calouro e de uma veterana sobre a faculdade de jornalismo. Nunca vi a entrevista, pois não tinha TV paga em casa. Não quis pegar uma cópia do programa. No entanto, ouvi isto: “Eu vi você na TV!”.

Na escola, nunca fui parecida fisicamente com a minha irmã. Com as amigas dela, sim. Quando estava junto com elas, muitos falaram assim: “Não, você não se parece com ela, mas com ela sim (apontando para a amiga de minha irmã). Quando minha irmã entrou para a faculdade, aconteceu a mesma coisa. Ela tinha (ainda tem) uma amiga que era a minha cara. Somente uma vez na vida fomos consideradas irmãs. Havíamos cortado o cabelo acima dos ombros e repicado os fios. Um colega de trabalho meu disse: “Eu te vi no sábado dirigindo perto da minha casa e acenei para você. Mas você não me viu”. Naquela tarde de sábado foi a minha irmã quem dirigiu o carro de meu pai. Ele insistiu tanto dizendo que era eu que terminei a conversa desta forma: “Tá, era eu mesma”. Uma vez a caixa de supermercado olhou para nós duas e perguntou: “Vocês duas são gêmeas?”

Uma colega de trabalho me elogiou: “Lu, adorei o seu discurso de ontem”. Ela explicou que foi num evento da Igreja Católica. Várias vezes fui escolhida como representante dos colegas para discursar sobre alguém por causa do aniversário ou de alguma conquista. Eu falava de improviso e as palavras ditas por mim eram sinceras, verdadeiras e vinham do fundo do meu coração. Sempre pedi a Deus que da minha boca saísse mensagens boas para o homenageado e a todos os acompanhantes da ocasião. E não fui eu quem fez o discurso no evento da Igreja Católica.

Na faculdade não foi diferente. Uma colega chegou na sala de aula e logo sentou ao meu lado contando: “Lu, paguei o maior mico hoje!” Ela havia ido numa clínica médica e começou a conversar com a atendente. À medida que conversava, ela percebeu que “eu estava estranha”. Nunca trabalhei em consultório médico...

No ano passado teve um dia que estava lendo um livro na biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) quando fui abordada por um rapaz com esta pergunta: “Você é a primeira colocada geral do vestibular da UFSC?” A jovem que obteve essa classificação tinha o rosto estampado em outdoors, propaganda da escola onde estudou e se preparou para o vestibular. E também aparecia na TV. Foi entrevistada em jornais da cidade. Sim, a moça se parecia comigo. Ela usa óculos, têm cabelos lisos, longos e castanhos, pele clara, sorriso bonito, usa anéis, principalmente no dedo polegar... A diferença? Sou uma balzaquiana e ela com 17 anos de idade.

No entanto, creio que, às vezes, eu mesma confundo as pessoas. Costumava mudar constantemente o meu visual. E fico diferente a cada corte novo de cabelo. O meu rosto parece ser mutável. Já tive cabelos curtos (fiquei a cara do meu irmão e não volto a ter esse visual de jeito nenhum), estilo chanel, franjinhas, cabelos repicados, pintados, etc. Hoje já não mudo tanto. Estou de cabelos longos e com a cor natural. Mas... Tenho vontade de pintá-los. Ainda vou amadurecer essa ideia. Será que vou causar novas confusões? E vocês? Já foram confundidos com outras pessoas?

A ilustração que acompanha este texto foi feita pela minha cunhada Nina. Ela a fez quando brincava de desenhar e pintar com os seus filhos. Humm, a moça da ilustração me lembra alguém...

Lu Vieira

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quarta-feira, março 10, 2010

Sonhos Nº 10. Montanha russa dentro d'água

Sonhei que estava no Rio de Janeiro. Era como se estivesse dentro de uma propaganda ou reportagem sobre a nova sensação do verão. Uma montanha russa dentro de um parque aquático.


"Nesse verão só o que te pega pelo pescoço é a Murissoca."


Este era o slogan do novo brinquedo. E o que a Murissoca tinha de diferente fora o nome? Ela era uma montanha russa dentro d'água.


No começo tive uma visão do alto e o parque aquático era igual a todos os outros. Depois eu estava sentado no primeiro carrinho da composição. A água da piscina chegava a altura do tórax, quase encobrindo os ombros. Os carrinhos partem. O looping é legal. Depois disso ela retorna ao nível normal e então é hora de submergir. Prendo a respiração e a Murissoca vai pro fundo d'água. É azul e confortável. Antes, bem antes de perder o fôlego adentramos um túnel. O teto em semi circulo é liso e reflete a água que é iluminada por lâmpadas submersas. Entre a água e o topo do túnel há uma distância de uns 60 centímetros. É possível respirar, mas tenho medo de que uma marola jogue água no meu nariz durante uma inspiração. O túnel é azul ou verde, cor de água e brilhante e límpido, mas ali em baixo não é tão confortavel assim.




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segunda-feira, março 08, 2010

As duas meninas


Ambas são magras, sendo que uma é magricela. Possuem a mesma altura. Ou quase. São morenas e têm cabelos longos. Usam biquínis. Uma de cor laranja e a outra, lilás. Irmãs? Não sei. Idade? Talvez 8 ou 9 anos. Estão na praia da Daniela, de águas tranqüilas, em Floripa. Eu também.

Quando meu olhar se dirige pela primeira vez para as duas meninas, elas estão saindo do mar. Uma mulher diz alguma coisa a elas. Pode ser a mãe delas ou de uma delas. Ou a tia. Ou uma amiga mais velha. As garotas vão para a areia e sentam na toalha estendida no chão. O sol está indo embora. Elas sentem frio e se protegem com roupas ou toalhas que não consegui identificar. Não gostam de ficar paradas.

Estou sentada numa cadeira na areia e conversando com os meus amigos. Muita gente foi embora. Às vezes, olho para as meninas, pois a mulher sumiu. Não consigo ver outro responsável por elas. Olho para aqueles que tomam banho de mar e tento descobrir se um deles é o responsável. Provavelmente a mulher havia dito que eram para elas esperarem ali, enquanto ia dar uma saída. Coitadas. Esperar, esperar e esperar.

De repente, as meninas se levantam e começam a desenhar na areia usando as mãos, os pés ou um pedaço de madeira ou uma conchinha. Fazem círculos, retas e linhas de diversos traçados. Param. Andam em cima dos traçados que desenharam. Uma distração interessante. Criaram caminhos. Apesar do sol se pondo, ainda uso óculos escuros. Assim, posso observá-las melhor sem elas se sentirem incomodadas.

Depois de andar por todos os caminhos que existiam, elas desenham de novo. Mais caminhos. E repetem várias vezes: desenham e depois andam. Em um determinado momento, elas estão perto de mim. Quando me veem, dou um largo sorriso. Elas fazem o mesmo. Não falo nada, pois estou sem os meus aparelhos auditivos. Havia tomado banho de mar e não podia colocá-los logo. Somente quando as minhas orelhas ficassem bem sequinhas. Elas continuam absortas na brincadeira.

Hora de ir embora. Arrumamos as coisas. Não esquecemos de nada na praia. Vamos indo em direção onde se encontrava estacionado o carro. Olho pela última vez para as duas meninas. “Adeus. Que Deus abençoe vocês. Que sejam boas e felizes. Que tenham pais maravilhosos. Curtam bem a infância”.

Lu Vieira

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sexta-feira, março 05, 2010

A carta ainda vive

Está certo às vezes queremos ganhar aquele presente que, de tão caro que é, nós ficamos com vergonha de comprá-lo. Normalmente o que acontece nesses casos é que ficamos só no desejo, pois só nós mesmos pra nos valorizarmos tanto assim. Mas não é esse o caso do momento. Hoje minha alegria não se deve a um presente caríssimo e muito menos a algo que eu tenha comprado para me presentear. O sorriso no meu rosto surgiu porque o Correio ainda funciona e graças a ele as distâncias tornam-se menores e podemos compartilhar nossa existência física com pessoas que no momento encontram-se muito distante. Assim as pessoas com gestos simples e sem despesas vultosos distribuem um pouco mais de alegria na vida de seus amigos. Foi assim comigo. Recebi um lindo cartão postal da Elite do Cartas à Filo-Sofia, um calendário poético feito com material reciclado da Madalena M. Barranco e uma carta da minha amiga Lu Vieira que foi morar longe daqui. Essas coisinhas simples são capazes de trazer uma felicidade que presentes caros não trazem. Afinal alguém dedicou um tempo da sua vida para mim e acho que isso é melhor que podemos fazer uns pelos outros. Gastar um pouco das nossas vidas para fazer outras pessoas felizes também.









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quarta-feira, março 03, 2010

Orgulho e Preconceito

Apesar de um filme sobre essa história ter sido feito recentemente quem me apresentou a Jane Austen foi uma colega, Ceinwyn, do fórum Valinor. Ela leu, adorou e deixou como recomendação a leitura de qualquer obra da autora.

Passaram alguns anos até que nas minhas férias de 2008 tomei coragem e adquiri um exemplar de Orgulho e preconceito.

A história abre com um dialogo tão banal que só mesmo um grande talento para esconder coisas importantes sob tanta futilidade e ainda assim espicaçar a curiosidade do leitor. O casal Bennet especula sobre a chegada à cidade de um jovem solteiro e rico. E nesse momento começamos a perceber sobre o que se trata a história. A busca da senhora Bennet em casar "bem" as suas cinco filhas.

Creio que mais de duzentos anos se passaram depois da publicação desse livro e mesmo assim nota-se que poucas coisas mudaram. Liberação da mulher, luta por direitos iguais e ainda hoje vemos mães empurrando filhas em direção a casamentos como se essa antiga instituição, falida, fosse o supra-sumo da realização pessoal na vida de uma mulher. Nesses dois séculos de intervalo o que mudou é que as vítimas de antes eram lordes e fidalgos e agora são pagodeiros e jogadores de futebol. Pensando bem, eles bem merecem o que lhes acontece.

Voltando ao livro, com esse pano de fundo tão atual e ao mesmo tempo tão simples Jane Austen desenvolve com maestria a trajetória de Elizabeth Bennet a segunda irmã mais velha entre as cinco moças da família. Personagem principal e de longe a pessoa mais equilibrada e perspicaz da família. É através de seus olhos que as palavras do título são desenvolvidas no decorrer do romance. Criando personagens interessantes e invertendo as coisas quando já acreditamos que tudo está definido Jane escreveu uma história cheia de “humanidade” que agradará àqueles que gostam de retratos da sociedade e a quem aprecia uma boa história de amor e intrigas.

Afirmo que esse livro foi uma agradável surpresa e que sua leitura é tão suave e fluente que em três dias devorei suas páginas. Apesar de toda minha programação de férias. 

P.S: Um ano e pouco depois de ter feito essa resenha assisti o filme e digo que foram muito felizes com a adaptação que levaram à tela. Roteiro quase igual ao livro!

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segunda-feira, março 01, 2010

Os guarda-vidas

Quando o verão chega, eles estão nas praias. Não em todas. É possível encontrá-los onde o mar possui ondas perigosas ou águas agitadas. Dou graças a Deus pela existência do trabalho dos guarda-vidas. Considero de grande responsabilidade e de coragem por colocar em risco a própria vida. Já imaginou se eles não existissem? Se eu fizesse o papel deles sem ser uma guarda-vidas, não teria credibilidade. Alguns poderiam pensar assim depois de eu orientar a não entrar na água em determinado ponto: “Quem ela pensa que é para dizer isso pra mim?”.

Antigamente eram conhecidos como salva-vidas. Hoje são denominados de guarda-vidas. Bem, pelo menos aqui em Santa Catarina é assim. Penso que o nome atual é o mais adequado. Melhor ficar de olho na vida dos outros em vez de sair correndo a fim de salvar alguém do afogamento.

Em um fim de semana de fevereiro estive observando as atividades dos guarda-vidas na praia dos Ingleses em Florianópolis. Essa praia tem ondas fortes. Apesar de saber nadar, eu só fiquei na beira do mar. No entanto, muitos banhistas iam ao fundo do mar. E os guarda-vidas não ficaram de braços cruzados. Em vários momentos, escutei o apito. Eram eles chamando os banhistas para saírem da área perigosa. Comparei o desempenho dos guarda-vidas com os policiais que atuam nas ruas. Os guardas de trânsito também orientam as pessoas nas ruas ou chamam a atenção. “Aqui não pode estacionar”. “Vire à direita”.

Havia bandeiras vermelhas fincadas na areia em boa parte da praia. Elas indicam que o mar está perigoso. Em um trecho tinha três bandeiras vermelhas distantes uma da outra e unidas com fita plástica de cores amarela e preta. Isso significava que não podia entrar no mar de jeito nenhum.

Num determinado momento, eu e meus amigos vimos um ato de salvamento. Dois guarda-vidas retiraram do mar um homem que teve um mal-estar. Utilizaram um tipo de corda elástica para puxá-lo de volta à areia. Um puxava a corda e o outro segurava o homem. Deu tudo certo. A cunhada de minha amiga, que conheci naquele dia, contou que dias antes uma adolescente não teve a mesma sorte.

Próximo das oito horas da noite e o dia ainda claro, resolvemos caminhar na praia. Mal começamos a andar quando nos deparamos com inúmeras pessoas em volta de algo. Os guarda-vidas tentavam reanimar alguém. Era um homem? Uma mulher? Uma criança? O máximo que conseguimos saber era de que se tratava de uma moça. Alguns diziam que era uma adolescente. Outros, uma jovem. Muita gente que observava o ato deixou as lágrimas rolarem no rosto, inclusive eu. A emoção e a esperança tomaram conta de mim. “Meu Deus, ajuda eles. Por favor, não quero ver uma morte na minha frente”. Dois guarda-vidas solicitaram às pessoas a se afastarem da cena. Logo vimos um helicóptero se aproximando para pousar na areia. A equipe do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegou para ajudar no trabalho.

Seguiram mais alguns momentos tensos. Não conseguíamos ver direito. De repente, os profissionais pareceram ficar mais aliviados e estavam colocando a moça na maca. Os guarda-vidas fizeram uma roda. As pessoas que viram o acontecimento começaram a bater palmas. O helicóptero levantou vôo. De pé do lado de fora do helicóptero e uma mão segurando num suporte, um jovem profissional do SAMU apontou o dedo em direção aos guarda-vidas. Entendemos que o mérito do salvamento era para os guarda-vidas. Eles continuaram em roda, ajoelhados no chão e um abraçava o outro. Agradeceram uns aos outros e a Deus. Aplausos demorados. Muita gente foi cumprimentá-los.

Enquanto a moça era socorrida, reparamos que não havia um parente ou um amigo dela junto. Pode ser que os seus acompanhantes foram para casa e ela quis ficar mais um pouco na praia. Provavelmente disse: “Vou dar um mergulho”. Como sou curiosa, procurei nos jornais por alguns dias a fim de encontrar a notícia sobre a ocorrência. Não achei uma notinha sequer. Não pude saber quem era ela. Conclui que é melhor pensar que ela está bem. Mergulhou em direção à quase morte e os guarda-vidas mergulharam para trazê-la de volta. Viva os guarda-vidas!

Lu Vieira

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