terça-feira, dezembro 09, 2008

Amor de pai



Cada homem tem o seu próprio tempo. Seja para o bem, seja para mal. Alguns são mais ligeiros, outros nem tanto. Às vezes poucos segundos podem esclarecer situações que poderiam se arrastar por anos ou até mesmo atravessar a existência sem jamais chegar a termo. Em outros casos é necessária toda uma vida para que algo se concretize. Cada um, cada um e cada coisa a seu tempo.


E quanto tempo é preciso para surgir o amor? Essa flor tão almejada e tantas vezes cantada, descrita e pintada através dos séculos. Será coisa que surge a primeira vista ou será como as grandes árvores que necessitam de anos de cuidados e cultivo para crescer? Tanto já foi dito e discutido sobre o tema que qualquer palavra que eu exponha nesse espaço soará pretensa e até mesmo leviana. Entretanto não posso me furtar à chance de expor minha visão pessoal acerca do assunto.


Pra mim essa flor surgiu leve e rápida numa manhã chuvosa. Veio sem muito estardalhaço. Posso dizer até que foi muito discreta a sua aparição. "No princípio era o verbo..." Sim São João foi nossa companhia nos primórdios. Foi testemunha dessa flor que brotava em meu peito e eu regava com lágrimas.


Passaram-se os dias e minhas noites tornaram-se mais longas. E aquela relação passou a consumir o meu sono. Demorava a dormir. Fazia vigílias. Voltei a rezar. O corpo sofreu e a mente foi acometida de uma fixação em um único ser.


O resultado de todos esses esforços retornou na forma de um calor que aquecia o coração e também a alma. Mesmo nos momentos mais sombrios uma simples lembrança era capaz de fornecer-me um sorriso e encher-me de coragem para seguir em frente. Entretanto com a confiança, a alegria e a paz também veio o medo. O medo de que tudo aquilo pudesse ser retirado de minhas mãos a qualquer instante. Então os olhos ficaram mais atentos e ou ouvidos aguçaram a percepção. Manter não era mais suficiente. O mundo era hostil e agora surgia mais uma necessidade. A proteção. Ao menos contra os fatores externos.


A brutalidade da realidade pode se demonstrar de várias formas, nem sempre tão violentas quanto assistimos na tv. No meu caso um simples engasgar seria capaz de destruir meu mundo. A simples obstrução de uma via aérea poderia retirar o amor do meu convívio e com ele todo o sentido da minha existência. A vida quase me deixou sozinho no meio do quarto com o peso de uma ausência infinita nos braços. Mas a sorte, o destino ou mesmo os instintos de vez em quando tentam ajudar. Com um movimento brusco a boca cobriu o pequeno nariz, aplicou-lhe sucção. Em seguida cuspiu no chão o misto de muco, saliva e mingau. Antes que uma nova sucção fosse aplica um choro vigoroso invadiu o recinto. Não foi o suficiente para acalmar um coração abalado, mas serviu para atrair pessoas mais habilitadas para o local.


E quando o amor é ameaçado e as pessoas são forçadas a olhar a cara do destino e perceber que existe uma possibilidade de que as coisas mudem pra pior. Aí então percebem o real valor daquilo que possuem e o quanto estão dispostos a fazer para manter o que conquistaram.


Hoje vejo com a clareza que aqueles momentos não me permitiram vislumbrar, que no decorrer daquele primeiro ano com minha filha descobri o que agora sei ser o amor. Talvez alguns digam que eu não entendi nada ou que distorci as coisas pelo caminho ou simplesmente não tenho coração para entender a grandeza desse sentimento. Para esses repito apenas o que já escrevi no começo dessa crônica.


"Cada um, cada um e cada coisa a seu tempo."



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2 comentários:

  1. Moço, já é a segunda vez que escrevoa qui e vai ao ar, devems er os foguetes por meus anos...já vi seus parabéns na pascoalita... Beijinhos e obrigada e espreite no resteas para ver o meu amor pelo pai e a saudade que tenhod ele.

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  2. Laura tenho acompanhado suas postagens e por isso já notei a relação de amor e afeto que tinhas com o teu pai. Embreve eu retorno ao teu cantinho.
    Um abraço moça.

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