sexta-feira, setembro 14, 2007

A cor errada. Parte II


A indiferença doeu. Doeu muito mesmo. Entretanto ela era uma sobrevivente e não uma vítima. Decidiu que fosse o que fosse que houvesse de errado não seria por causa disso que ela deixaria de ocupar o seu lugar no mundo. Foi à luta e novamente tentou estabelecer laços. Ofereceu a todos ao seu redor sua força e toda a sabedoria que acumulara nos seus dias de luta pela sobrevivência. Falou sozinha e o vento levou embora suas palavras. Não desistiu. Continuou tentando alcançar o coração das pessoas. Com o tempo a indiferença deu lugar a um sentimento mais amargo. Mais vigoroso. Era a raiva. Tinham raiva dela. Apesar de jamais ter feito nada que pudesse prejudicar alguém. Toda vez que tentava uma aproximação era recebida com ofensas, ameaças e impropérios. Muitas lágrimas foram derramadas naqueles dias. Tantas lágrimas que foram suficientes para afogar a bondade e a alegria de viver. Se o bem era pago com o mal. Se a sua oferta de amizade era recompensada com agressões então ela guardaria para si os sentimentos que existiam dentro dela. Se pudesse teria criado uma casca dura e sólida ao redor entre si, mas isso não estava ao seu alcance. Não fazia parte da sua natureza. Simplesmente resignou-se e passou a viver à margem da sociedade. Isolou-se num mundo só seu. Onde ela podia viver em paz e harmonia. Sem ter ninguém que entrasse em conflito com ela sem ao menos ter um motivo palpável.
O tempo passou e ela chegou a um ponto eqüidistante entre a infância e a velhice. E neste momento sua beleza atingira o ápice. Deixou pra trás o frescor da juventude. Trocara-o pela segurança e pela altivez que a maturidade concede a poucos. Indiferente as suas próprias mudanças e concentrada em viver equilibradamente não percebeu as mudanças que ocorriam ao seu redor. Não observou as mudanças sociais que ocorriam. E como essas mudanças poderiam afetá-la. Da mesma forma não viu os sentimentos que sua nova situação despertava em seus vizinhos. O que antes era uma questão de indiferença e grosserias agora tomava a forma de um ódio invejoso e violento. Capaz de romper as últimas barreiras impostas pela educação e civilidade. A partir desse momento tentavam agredi-la a todo instante e de qualquer forma que fosse possível. Agressão emocional, verbal e até mesmo física caso a oportunidade fosse propícia.
Não importava para que lado se inclinasse o resultado era sempre o mesmo. Ódio e violência. Porém apesar de ser bela não era de todo indefesa. A natureza concedeu-lhe os meios necessários para que se defendesse de seus inimigos. Furou e arranhou todos os que se atreveram a chegar perto demais. Apesar de ter machucado uns e outros isso não foi o suficiente para que eles se afastassem definitivamente. Ao que parece sua reação só serviu para que eles reforçassem seu ódio contra ela.


Continua...

6 comentários:

  1. tô gostando do que li até agora! publica logo o próximo...

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  2. Credo, ou escreves tudo ou nada. ehhh calma nina que vem ai o fim de semana, e a novela só recomeça segunda feira...
    Beijinho a vc seu alves, e já viu a cusca como ela se vestiu?

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  3. Nem sempre somos bem interpretados...
    Te linkei!

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  4. ah, eu queria dizer um palpite sobre ela, mas tenho medo de estragar sua trilogia.

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  5. Oba! Uma de tuas estórias...
    Agora o negócio é esperar pra ver a sequência.
    Beijinho

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