terça-feira, setembro 11, 2007
A cor errada. Parte I
O seu nome não vem ao caso agora. O que é importante saber é que ela está morrendo. Nesse exato instante sua vida escorre em decorrência de um golpe firme e certeiro. Após a dor lancinante causada pelo aço frio cortando o seu corpo sua mente é invadida por lembranças de sua existência. O passado não a deixaria em paz nem na hora da morte.
Pai e mãe não faziam parte de sua história. Desde os primórdios de sua vida a solidão fora a única companheira que estivera ao seu lado em todos os momentos. A infância não tinha sido fácil. Constantemente tinha que buscar a sobrevivência da maneira que fosse possível. Fome, sede e medo a cada dia. Às vezes tinha o que comer, mas faltava água. Outras vezes quase morria afogada para logo em seguida passar por mais um período de fome. Rezando para que o sol não se deitasse. Para que ele ficasse ali. Parado iluminando a tudo e a todos. Dando-lhe força e esperança. Transmitindo a segurança que ela tanto necessitava. Tinha medo da noite. Medo do escuro e do desconhecido. Implorava para sobreviver a cada ciclo de escuridão e incerteza. Tudo que aprendeu; aprendeu sozinha. Talvez por causa disso agarrava-se com todas as forças àquilo que lhe fosse necessário para manter-se viva, forte e saudável.
Apesar de todas as dificuldades sobrevivera razoavelmente bem a infância. Crescendo e desenvolvendo-se melhor do que as expectativas mais otimistas. Descobriu que não estava sozinha no mundo e seu coração encheu-se de uma alegria que jamais sonhou que fosse capaz de sentir. Teria enfim a companhia de seus semelhantes e deixaria de ser uma criatura que vagava pela existência para enfim fazer parte de um grupo, de uma comunidade, quem sabe até mesmo de uma família. Existia um vazio dentro de si que ela precisava preencher. Apresentou-se. Contou sua história e abriu o peito para estranhos. Entregou-se inteira. Sem reservas. Porque até aquele dia nunca tivera que enfrentar nada mais do que a natureza. Sua força e seus caprichos. A princípio nada foi revelado. Um véu suave cobria toda a situação. Mesmo assim ela percebeu que ainda não era chegado o fim da sua solidão. As outras simplesmente a ignoravam. Faziam de conta que ela não estava ali. Não a mencionavam e nunca chamavam o seu nome. Era como se ela não existisse. Um fantasma entre os vivos. Vendo, cheirando e ouvindo tudo o que se passava ao seu redor. Porém sem poder tomar parte em nada. Uma eterna espectadora da vida. Assistindo a felicidade e a tristeza dos outros. Sem poder interferir e sem que ninguém interagisse com ela.
Continua...
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Belíssimo conto.
ResponderExcluirBoa semana!
Posso linkar?
ResponderExcluirPassei para te deixar um abraço!
ResponderExcluirA vida... traduzida em conto...
ResponderExcluirBjs meus
Embora não concla a história, recorda-me a minha vida.
ResponderExcluirBisous.
Embora não concla a história, recorda-me a minha vida.
ResponderExcluirBisous.
Muito bom!Vou ficar à espera da continuação!Abraços!***
ResponderExcluirÉ teu ou de cópia? é que tu tanto escreves como não ehhhhhhh...mas eu já sei que escreves bem, aliás até tenho a prova disso comigo...
ResponderExcluirQuero ler o romance completo! É um cadinho triste, mas ...
ResponderExcluircontinua