quinta-feira, agosto 09, 2012

Estranhas visitas

Depois de 12 horas fora de casa trabalhando e pendurando-se em coletivos lotados tudo o que ele desejava era um banho quente seguido de cerveja, comida e cama. Enquanto subia as escadas planejava o que iria pedir pro jantar. Nessas horas sentia falta de ter alguém em casa. Não alguém que o amasse, não exigia tanto da vida. Se conseguisse alguém que cozinhasse pra ele já se daria por satisfeito. Venceu o último lance de escadas, inseriu a chave e notou que a porta estava aberta. O medo disparou dentro dele. Por um momento hesitou, indeciso, entre fugir ou escancarar a porta. Foi o suficiente. Chamaram seu nome na escada. Virou-se pra olhar quem era. A porta abriu e várias mãos o puxaram pra dentro.
Debateu-se, tentou gritar. Levou um golpe no estômago com ele veio a dor e a mudez. Acenderam a luz da sala e três rostos desconhecidos surgiram pra ele. Uma voz fora do seu campo de visão pediu que ficasse calmo. Não iriam fazer-lhe mal algum.
- Vocês querem dinheiro? Eu não tenho nada em casa. Por favor, levem o quiserem, mas não me matem.
- Creio que o senhor está muito apavorado e não entendeu bem o que eu disse. Fique calmo e, por favor, responda minhas perguntas para que possamos terminar isso rapidamente. Entendeu? - continuou a voz sem rosto.
Houve um silêncio longo, tenso. Um dos invasores golpeou a boca do homem imobilizado e cobrou uma resposta.
- Idiota! - gritou o homem oculto enquanto chutava. - Não bata na cabeça dele. Não entendeu que precisamos do cérebro intacto? - depois de se acalmar lembrou de cuidar do seu  refém. - Sentem-no. Deixem que cuspa o sangue antes que se engasgue. Morto ele não serve pra nada.
Tossiu e botou pra fora o sangue. Balbuciou um vou cooperar e ficou a espera do interrogatório.
- Seu nome é Federico Zensieren?
- Sim.
- Trabalha no ministério da Cultura?
- Sim.
- Setor de curadoria do audiovisual do século XX?
- Sim. Mas como vo... - foi interrompido pela alegria do seu seqüestrador.
- Este é o nosso homem rapazes.
- O que eu fiz? O que vocês querem de mim?
- Simples meu caro. Você é responsável por analisar filmes. Para isso tem que assisti-los. Os que estão de acordo com a Constituição da República Evangélica do Brasil são liberados pra exibição, mas e os outros? O que acontece com os outros filmes?
- Ora! O que acontece com todo filme que ofende a moral cristã, é destruído conforme manda a lei.
- Mas para que isso ocorra, antes é necessário que alguém assista a obra inteira certo?
- Sim! Por quê? O que isso tem a ver comigo?
- Simples o que queremos é o seu cérebro. Nem tanto ele. Queremos suas lembranças. Melhor dizendo, queremos os filmes que você assistiu e depois destruiu.
- Isso é loucura!
- Loucura é queimar um filme. Loucos são vocês que querem limitar a mente humana. Rapazes vamos levá-lo. Com ele já garantimos a temporada desse ano. Ah, e cuidado com a cabeça.



Gostou do texto? Cadastre-se ali no topo à esquerda e receba posts no seu email. É grátis!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se você se deu ao trabalho de escrever então nós iremos responder.