E o meu primeiro dia de aula foi mais interessante do que eu esperava. Logo na entrada duas opções de filme pra analisar. Infelizmente o Mazzaropi, Casinha pequenina, que a professora trouxe não pode ser usado por causa do sistema de som da sala que não permitia ouvir claramente os diálogos. Ficamos então com a segunda opção e fomos de Akira Kurosawa.
Rapsódia em Agosto foi lançado em 1991 e conta a história de quatro crianças que passam as férias de verão com a avó enquanto seus pais vão ao Havaí visitar um possível parente rico. A vovó, uma sobrevivente da bomba de Nagasaki, vive isolada no campo e não acredita que o homem do Havaí seja realmente um de seus numerosos irmãos. As crianças não parecem muito adaptadas à vida que a idosa leva e sonham juntar-se aos seus pais na viagem. Reacionários a princípios os jovens vão pouco a pouco sucumbindo ante a paciência, boa vontade e narrativas da anciã. Como pano de fundo temos a história de Nagasaki e a bomba atômica, evento que mudou a vida da vovó ao fazer-lhe viúva ainda jovem e que ao longo do filme é mostrado de diversas formas.
O que eu mais percebi no filme foi a forma como a idosa aproximou-se dos netos e através deles conseguiu atingir os filhos. Os pais das crianças foram criados num Japão dominado pelos americanos e onde estavam proibidas as manifestações culturais que valorizassem as tradições japonesas. Tornaram-se uma geração que apesar de ter recentemente sofrido um duro golpe desferido pelos americanos, ainda assim desejava tornar-se igual aos seus opressores. Prensados entre a mãe e os filhos eles começam a rever algumas atitudes e pensamentos que estavam em desacordo com o que a matriarca da família esperava deles.
Também observei como a cidade de Nagasaki é sempre mostrada como uma paisagem queimada e sem vida, mesmo sendo uma grande cidade o diretor faz questão de tirar-lhe a humanidade. Enquanto na casa da vovó há árvores, arroz, água, enfim, vida.
A professora ressaltou-nos a fragmentação das imagens, tudo no filme é fragmentado, não há paisagens inteiras, não há grandes visões. Cortes secos e câmera fixa são mais características desse filme.
Um filme bonito, com uma história rica em interpretações e simbologias. Vai agradar as pessoas que tem mais paciência para assistir um filme. Mas é um bom programa pra quem não tem medo de refletir depois que as luzes se acendem.
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Pelo visto deve ser muito bom mesmo. Gostei da sinopse. Adoro esses filmes que nos fazem refletir... ;)
ResponderExcluirBeijos!
Raíssa o filme é bonito e creio que você gostaria de assistir.
ResponderExcluirUm abraço moça.
Cris acho que você vai gostar desse filme então. Uma história bem bonita entre avó e netos.
ResponderExcluirUm abraço moça.
Você teve uma ótima aula no seu primeiro dia. E nós, os seus leitores, também ganhamos uma aula por meio do seu relato e dos textos lincados. Assim como a Cris, é muito difícil eu não gostar de algum filme também. Para não gostar, tem que ser muiiiito chato mesmo. Consigo refletir sobre qualquer filme. É só querer fazer isso.
ResponderExcluirLendo sobre a história de Kurosawa, eu me deparei com a informação de que foi ele quem dirigiu o filme "Dersu Usala" que vi muitos anos atrás. Eu me emocionei só de lembrar desse filme e fiquei com desejo de revê-lo. Muito bom, vale a pena assisti-lo.
Obrigada, moço, por dar uma aula para a gente!