- Igor! O que você faz acordado a essa hora?
- Estou brincando de soldado.
- Mas já passou da hora de ir dormir rapazinho.
- Ah! Pai eu vou, mas só se o senhor me contar uma história.
- Certo. Certo se é assim que tem que ser. O que você quer ouvir?
- Uma história bem assustadora.
- Está bem, mas depois não venha me procurar chorando, dizendo que teve um pesadelo. Vou te contar a história do pequeno Jung.
Era uma vez um menino que talvez tivesse a sua idade. Seu nome era Jung. Bonito, saudável, adorava correr por aí. E passar muito tempo ao ar livre. Seus pais que eram atenciosos e lhe tinham muito carinho sempre diziam que não deveria andar sozinho por terras desconhecidas e principalmente evitar o contato com estranhos. Mas ele era jovem e acreditava que sabia tudo e que os adultos gostavam mesmo é de assustar as crianças. E num desses dias quando deveria estar na cama resolveu sair escondido e se aventurar pelo mundo. E lá foi ele, o grande caçador. Sua busca era por um troféu, algo que demonstrasse a todos sua astúcia e seu poder. Para isso seguiu em direção ao desconhecido. Olhos atentos vasculhavam o mundo. Movia-se com cuidado, rápido, porém silencioso. Não queria afugentar a caça. Desejava um bote certeiro, que fosse capaz de terminar tudo de forma rápida e eficiente como sempre vira seus pais fazerem. O olfato apurado analisava cada odor trazido pela brisa. E o instinto impulsionava-o em sua busca. Antes mesmo de ver ou ouvir, soube que algo estava em seu caminho. Logo ali, à frente, estava sua presa. Redobrou os cuidados e aguçou a visão. Lá, em meio às folhagens movia-se o alvo. Mesmo de longe percebeu que era uma criatura arisca, que não deixaria se capturar facilmente. A simples visão da presa foi o suficiente para despertar seu apetite. Sentiu um vazio acompanhado de dor. A boca encheu de saliva. Passou a língua nos dentes. Iniciou a caçada. Fez um leve barulho. Forte o bastante para ser ouvido, suave o suficiente para não ser ignorado. Percorreu um caminho diagonal até postar-se atrás do alvo. Sabia que o barulho havia despertado a desconfiança da vítima. Podia vê-la mais alerta, examinando ao redor em busca de algo. Sentiu o cheiro de medo que ela exalava em seu suor. Não hesitou mais e partiu para o ataque. Isso será fácil demais, foi o que Jung pensou naquele momento. Demorou uma fração de segundo, mas quando a caça tomou conhecimento do que estava acontecendo saiu correndo em disparada pela trilha. Caçando e fugindo. Ninguém mais se preocupava com o barulho que faziam. Chegaram àquele momento de vida ou morte em que tudo o que importa é fugir ou morrer. O caçador deu um salto e caiu sobre o perseguido. Rolaram no chão. Jung era mais forte e já se preparava para desferir o golpe final quando algo o atingiu na cabeça. Um golpe forte. O sangue escorreu com força. Teve medo e fugiu para se salvar. Para ele a caçada terminara ali.
…
- Vô, conta pra nós uma história Vô.
- Hum! Mas já contei todas que eu sabia.
- Não faz mal. Conta de novo.
- E qual história que vocês querem ouvir? Da caipora, Mané do Riachão ou aquela do lobisomem?
- Não Vô, a gente quer aquela do vampiro que tentou atacar o senhor.
- Hum... tá certo então. Faz uns quarenta anos que isso aconteceu comigo. Era janeiro estava quente, um calor dos diabos. E eu tava com uma vontade danada de comer palmito. Resolvi ir cortar no palmital que fica naquele morro pra lá das bananeiras. Saí cedo de casa e devia ser no meio da manhã quando ouvi um barulho estranho. Não parecia coisa de bicho pequeno. Fiquei olhando pra ver o que seria. Tive medo que fosse onça. Mesmo sabendo que ninguém via um bicho desses por ali há muito tempo. Não vi nada, mas senti um arrepio no corpo todo. Os pelo ficaram tudo em pé. Até os cabelo da nuca. Resolvi apertar o passo e tocar em frente. Não tinha dado dois passos quando ouvi uma barulheira infernal atraz de mim. Saí correndo sem nem olhar pra trás. Pensei até que ia escapar, só que o bicho pulou nas minhas costas e eu caí no chão. Nós rolamos por ali e a coisa era mesmo muito forte. Já tinha ficado por cima de mim e foi aí que pude ver o que tava me atacando. Era um piá. Cabelos espetado, olhos vermelhos, pele branca e dentes enormes, pontudos e saltados. Ele ia me morder. O moleque queria mesmo me matar. Mas na hora que ia dar a mordida consegui alcançar o meu machado e acertei uma porrada na cabeça dele. O golpe não foi forte a ponto de matar, mas não deve ter sido muito fraco, pois arrancou sangue do bicho e acho que doeu bastante porque ele fugiu na mesma hora. Desapareceu no mato e eu não esperei pra ver se ele voltava. Me levantei do jeito que deu e agarrei o caminho de volta pra casa. E desde então que eu nunca mais voltei para aqueles lados.
Agora durmam e comportem-se senão eu solto você no mato pra aquele curumim pegar vocês.
- Ah, Vô! Só o senhor mesmo pra inventar essas histórias.
…
- E é por isso que eu sempre digo, Igor não anda por aí sozinho e que se te der fome peça pra um adulto te dar comida. Você é muito novo e pode apanhar da sua refeição que nem aconteceu com o pequeno Jung. Agora vai dormir que o sol já está nascendo.
Texto escrito para o desafio do
Duelo de Escritores de 11.07.2010. O tema eraVampiro.
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