Malotes

Greve nos Correios. Deixo o conforto do ar condicionado e tomo o meu lugar nas ruas da cidade. Alguns dirão que tomo uma atitude covarde e interesseira. De fato não me preocupo com o julgamento que possam fazer sobre essa questão. Pra mim é indiferente estar lá ou aqui sentado à frente do computador.
Serviço honesto e simples a entrega de malotes normalmente só causa confusão no primeiro dia, quando normalmente andamos em círculos tentando achar todos os clientes novos que surgiram desde a última greve. Depois que nos localizamos dentro do distrito as atividades correm sem sobressaltos. É só subir e descer escadas carregando pesados malotes, enfrentar o trânsito insano da cidade e o calor. Às vezes alternando o calor abafado da manhã com o vento frio e a chuva no meio da tarde. Mas de fato o que considero a pior coisa na atividade de carteiro é o contato com pessoas de mau humor. Isso é algo que vampiriza as nossas energias. Não estou falando de indiferença, já que mais da metade das pessoas nem sequer nota a presença do carteiro em seus locais de trabalho. É como se fossemos invisíveis. Porém quem lida com pessoas acaba por ter que lidar com todo tipo de gente e às vezes não conseguimos escapar de pessoas que estão com um dia ruim. Das dificuldades que encontrei lá fora essa foi a que mais chamou minha atenção.
Um serviço para poucos e executado por poucos. No meu caso foi bom pra arejar a cabeça, pra oxigenar os músculos e curtir um pouco a paisagem. Necessidades que os trabalhadores de escritório relegam ao esquecimento perpétuo.
O movimento grevista durou três dias o que pra mim foi de bom tamanho. Agora passada a tempestade é hora de regressar à rotina e aguardar a próxima greve.